FMI defende parcerias público privadas em África, diz Oliver Blanchard
O economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Oliver
Blanchard, defendeu hoje em Maputo a formação de parcerias público privadas
para desenvolver as infraestruturas e o setor empresarial em África, uma
proposta controversa no continente.
O primeiro passo necessário para a transformação estrutural do setor
privado são as infraestruturas, representando as Parcerias público-privadas
(PPP) a melhor forma de obtê-las a curto prazo, defendeu Blanchard, durante um
debate integrado na conferência África em Ascensão, promovida pelo FMI e
Governo moçambicano.
"Além disso, os dois parceiros [público e privado] podem-se controlar
mutuamente e também aprender um com o outro. Por isso, para mim, o primeiro
passo a dar [para o desenvolvimento de infraestruturas] é o estabelecimento de
PPP", acrescentou o economista-chefe do FMI.
As PPP acabaram por dominar o debate sobre o setor empresarial da África
subsariana, após um empresário queniano ter rejeitado esta forma de
investimento.
Andrew Rugasira, diretor da Good African Coffee, lançou uma acesa discussão
sobre esta forma de desenvolvimento de infraestruturas, considerando que
existem outras formas de se realizarem investimentos, ainda que mais demoradas.
"A noção de PPP coloca-se num plano demasiado acima das pessoas, que
precisam de estradas e de energia, mas, se tiverem boas sementes, vão conseguir
alimentar as suas famílias. Se os agricultores formarem cooperativas e estes
grupos obtiverem conselhos sobre produção ou distribuição, vão conseguir obter
rendimentos para desenvolver aquilo de que necessitam", afirmou Rugasira.
Falando sobre a experiência da Nigéria neste domínio, Sarah Alade,
governadora do Banco Central nigeriano, referiu que um dos maiores
constrangimentos do seu país continua a ser a falta de energia e que, por isso,
o governo local está a chamar o setor empresarial para ajudar a suprir esta
carência.
"A eletricidade na Nigéria tem sido um problema e agora estamos a
tentar privatizar o setor. As PPP são necessárias", sublinhou a
responsável, acrescentando que os países subsarianos e a comunidade
internacional precisam delinear estratégias de cooperação para reforçar a
segurança na região e atrair assim mais investimento estrangeiro.
Opinião semelhante apresentou o vice-presidente da IFC Corporação Financeira
Internacional, um braço do Banco Mundial para o financiamento do setor privado,
enfatizando que, sem o nível adequado de confiança, os empresários continuarão
reticentes em realizar investimentos na região.
"Precisamos reforçar a confiança dos investidores em África",
salientou Jingdong Hua, notando que os países devem perceber qual é o seu
potencial económico e concentrarem os seus esforços no desenvolvimento dessas áreas.
"Os países são todos diferentes e, na África subsariana, temos os que
têm recursos naturais e os que não têm. Olhando para Ásia, vemos Singapura que
não tem recursos naturais, mas que tem um forte capital humano e um sistema
financeiro muito desenvolvido, o que leva outros países vizinhos a realizarem
lá operações [financeiras]", exemplificou o responsável.
Em jeito de conclusão, Olivier Blanchard, do FMI, assinalou que "há
muito dinheiro há procura de oportunidades e existem muitas oportunidades em África".
"Por isso, é necessário melhorar esta intermediação [procura e oferta]
para que mais dinheiro venha para a região e acabe por preencher a lacuna anual
de 93 mil milhões de dólares que precisamos" para o desenvolvimento de
infraestruturas, afirmou.
Dinheiro Digital com Lusa
http://dinheirodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=215206IFC patrocinou recentemente a elaboração de legislação sobe PPP para a Guiné Bissau