Curiosamente “Eurozone Crisis Tests the Limits of
Divergence” continua a ser o artigo mais visto deste blog PPP Lusofonia, depois
de 3 anos, o que nos leva a investigar o
que se vai dizendo sobre “Euro divergence” pela Internet
dentro.
O objectivo que importa,
e de que mais se falava há 30 anos quando da adesão à Comunidade Europeia, é a convergência de rendimentos, de PIB per
capita. Mas nisto a divergência está cada
vez mais instalada. Segundo a OCDE, o PIB per capita português caiu de 75% da média de Eurozone em 2010 para 70% em
2013, e vai afastar-se ainda mais até 2015.
E a divergência do
PIB/capita processa-se sobretudo pela divergência do contributo
persistentemente positivo ou negativo das contas externas liquidas, (X-M) .
Um país consistentemente
exportador prospera, um país consistentemente importador empobrece. Como os países membros da Eurozone não podem desvalorizar, nem subir as tarifas
alfandegárias, nem impor controlo de capitais, nem alterar as taxas de juro,
não conseguem corrigir a falta de competitividade directamente.
Os artigos mais vistos na Internet focam outros aspectos
em que convergência pode falhar, seja a divergência de custos unitários do trabalho
(relative unit labour costs),
a divergência dos saldos da BTC, balança de transacções correntes, e discutem
em que medida as correlações entre estas variáveis reflectem relações de
causalidade.
Uma primeira surpresa é
que o modesto artigo de blog de Dezembro
2011 aparece entre os artigos de topo na pesquisa, junto com artigos da EC e de
economistas académicos. .
Mas a surpresa mais importante é que os principais artigos
apontam para conclusões e recomendações bem diferentes daquelas que se vêm nos títulos
dos jornais cada vez que a Troika vem a Lisboa.
O artigo que aparece em primeiro lugar, e que portanto
continua a dar o mote , é o da European Economy
News , de April 2010, afirmando
que a “Divergência das Balanças de Transacção Correntes não é necessariamente
má numa união monetária”, que crise pode trazer oportunidades e que sem a moeda única os choques do ajustamento
externo podiam ser maiores. É preocupante ver estas ilusões inconsistentes com
a realidade continuando a ser apresentadas por órgãos sociais.
O artigo mais citado é dos
economistas Estrada, Gali e
Lopez-Salido, de Novembro 2012 que apresenta resultados interessantes sobre a
convergência ou divergência nas primeiras décadas da União Monetária:
- Houve uma forte convergência
nas taxas de desemprego em toda a área
do euro até à crise financeira de 2008
- Houve diferenciais de
inflação persistentes, e consequentemente grandes variações acumuladas nos
preços relativos , pelo menos até 2007. . As correlações observadas sugerem que a
evolução de indicadores de competitividade como os custos unitários de trabalho
foi consequência do crescimento diferenciado do emprego até 2007, e que houve
com bastante convergência na evolução de preços e de custos unitários de
trabalho.
- A grande dispersão dos saldos das Balanças
de Transacções Correntes (CAB) entre os países da Eurozone parece pouco correlacionada com indicadores quantitativos
de competitividade, como os preços de produtos transaccionáveis e os custos
unitários do trabalho, em termos relativos. Os crescentes desequilíbrios externos parecem
ter uma relação mais forte com outros factores qualitativos de competitividade, e não com indicadores quantitativos de preços relativos
Surpreendidos ao não encontrar
grande relação entre os preços relativos
dos bens transaccionáveis e a dispersão considerável das contas externas dos
países da Eurozone, os autores
procuraram outras variáveis que pudessem explicar os desequilíbrios externos
existentes. Testaram o Índice de Competitividade Global (GCI) publicado
pela WEF, que avalia a competitividade para além dos preços relativos reais,
focando elementos institucionais e
aspectos qualitativos de “Doing Business”.
O indicador GCI é composto por
doze "pilares” e revelou ter um poder
de previsão bastante maior ao demonstrar um relação fortemente positiva entre o
indicador de competitividade CFI do país, e o saldo BTC (de transacções
correntes), com um R2 de regressão em torno de 0,77 (tanto para 2007 e 2011). Um
dos doze componentes é o tamanho do mercado doméstico.
Os quatro sub-indicadores
(ou pilares) que mais se destacam em termos de seu poder explicativo do CAB ou saldo
da conta corrente são:
(i) Eficiência dos mercados as mercadorias
(ii) Intensidade tecnológica, a capacidade dos empresários de adoptar as
tecnologias existentes para melhorar a produtividade de suas indústrias
(iii) Sofisticação empresarial, a qualidade das redes de negócios e indústrias de
apoio do país
(iv) Capacidade de inovação
Para restaurar a competitividade dos países da periferia e reequilibrar
o comércio intra-Eurozone é necessário ajustar os preços relativos dos países
membros. Mas como a Alemanha não tolera
inflação superior, o FMI e a Troika insistem
que Portugal a chamada “desvalorização
interna” na forma de cortes de salários nominais.
Esta redução nominal e real de salários e rendimentos, que
torna a carga da dívida cada mais pesada num país sobre endividado. Enquanto o FMI “lamenta a rigidez e falta de
flexibilidade descendente nos salário portugueses, a desejada desalavancagem fica cada vez mais fora do
nosso alcance. Com tanta dívida publica e privada, a redução de rendimentos alimenta directamente o crédito mal parado e aumenta o stress sobre a banca
De facto os preços relativos poderiam ser ajustados com aumentos de salários e preços na Alemanha e nos outros países credores. Em 2012, o relatório do FMI sobre a Alemanha falava de aumentos de salários como uma parte natural do “rebalancing” entre credores e devedores, mas isso foi com pouca convicção e menos efeito.
De facto os preços relativos poderiam ser ajustados com aumentos de salários e preços na Alemanha e nos outros países credores. Em 2012, o relatório do FMI sobre a Alemanha falava de aumentos de salários como uma parte natural do “rebalancing” entre credores e devedores, mas isso foi com pouca convicção e menos efeito.
A análise de Estrada, Gali et al
sugere que a mal-fadada “desvalorização
interna” unilateral num país deficitário pode ter um impacto bastante limitado
na redução dos desequilíbrios externos, a
menos que seja acompanhada de reformas estruturais qualitativas.
E a experiência de Portugal e dos
outros países devedores sugere que os salários locais são muito menos rígidos
do que as receitas da Troika continuam ignorar os
economistas e não tomam em consideração o colete de forças que restringe as
potenciais medidas de ajustamento.
Entretanto, Paul Krugman diz que já estamos em no LOWFLATION TRAP no artigo de hoje.
Entretanto, Paul Krugman diz que já estamos em no LOWFLATION TRAP no artigo de hoje.
Faz recordar a história
do burro e do avarento.
Mariana ABRANTES de
Sousa
PPP Lusofonia Ángel Estrada, ,Jordi Galí, David López-Salido 2012, "Patterns of Convergence and Divergence in the Euro Area" https://www.imf.org/external/np/res/seminars/2012/arc/pdf/ELS.pdf
Eurozone Crisis Tests the Limits of Divergence 1 http://ppplusofonia.blogspot.pt/2011/12/eurozone-crisis-tests-limits-of.html
Limits of Divergence 2 http://ppplusofonia.blogspot.pt/2011/12/limits-of-divergence-2.htmlTesting the Limits of Divergence 3 http://ppplusofonia.blogspot.pt/2012/07/eurozone-tests-limits-of-divergence-2.html
GCI - WEF http://www.weforum.org/reports/global-competitiveness-report-2013-2014
"FMI - problemas persistentes na estrutura e no funcionamento dos mercados reduzem a flexibilidade da economia na resposta a choques adversos"
ResponderEliminarOs mercados portugueses são mais flexiveis do as receitas da Troika
Diz Krugman:
ResponderEliminarDefensores da baixa inflação dizem que deflação não é um problema, porque ele está concentrada em países devedores em processo de ajustamento.
Errado!
Inflação baixa é um problema muito maior do que parece precisamente porque está concentrada em países devedores e, portanto, impõe uma carga real maior sobre os devedores do que as médias indicam
Inflation Targets Reconsidered
ResponderEliminarhttps://webspace.princeton.edu/users/pkrugman/pksintra.pdf
A rigidez salarial seria bem-vinda em Portugal.
ResponderEliminarA realidade é que as remunerações reais disponível têm caido para todos, os funcionários públicos, os pensionistas, os 15% desempregados e para muitos do sector privado em forte reestruturação.
As regras do mercado único e da moeda única são mais rigidas do que qualquer contrato de trabalho em Portugal.
Sem inflação, o custo do ajustamento dos preços e salários relativos cai de forma assimétrica nos países devedores mais fracos.
Basta ver o impacto no crédito mal parado.
Ouvir dizer que desvalorizações eram batota é escutoar inocentes na selva financeira.
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