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segunda-feira, março 19, 2012

Conta-me como chegámos à condição de LIXO

No Prefácio ao livro Roteiro VI, o Presidente da República Cavaco Silva começa a colocar a questão crítica:
O que é que falhou no sistema político português para que Portugal chegasse á condição de “lixo”?

Quais foram as falhas institucionais?

Foi o Primeiro Ministro, o mais recente e os mais antigos, que não não ouviu avisos nem alertas de ninguém?
Foram todos os membros do Governo, recentes e antigos, desde o Ministro das Finanças ao Secretário de Estado do Desporto?
Foi o Sistema de Controlo Interno, as Inspeções e os Controladores Financeiros*?
Foi o auditor externo, o Tribunal de Contas?
Foi o poder legislativo, os Deputados na Assembleia da República?
Foi o poder judicial, desde os procuradores até ao Supremo?
Foi o Presidente da República, que só fez uma dúzia de alertas?
Foi o Banco de Portugal que deixou o crédito interno crescer excessivamente?
Foram os bancos, nacionais e estrangeiros, e o sector privado que alimentaram ou alinharam no sobre-endividamento externo?
Foi o EUROSTAT e os bancos alemães, franceses e ingleses que nos deram a corda (crédito)  para nos enforcar (que não conseguimos pagar)?
Foi a União Europeia e as deficiências dos Tratados?
Foram os eleitores que votaram mal, repetidamente?
Foi a democracia em geral, e o que faz falta é outro Salazar?

Se o descalabro não era inevitável, quem não fez ou não acatou os avisos e alertas que se impunham?
Com um desastre financeiro desta dimensão,  haverá seguramente culpas e responsabilidades que cheguem para todos. Quem poderá dizer que não foi nada comigo?

Quanto à "deslealdade" de Sócrates, essa parece ter sido premeditada , ao negociar o PEC IV sem ouvir nem os outros partidos nem o Presidente da República, "diametralmente contrário" à pratica habitual. Assim sendo, a "crise política de 2011" foi mais um esgotamento, pois já não era possível continuar a adjudicar contractos e a distribuir benesses, como se tinha vindo a fazer desde a adesão à Comunidade Europeia.
Dizem os comentadores que não se deve desenterrar os mortos nem procurar apurar responsabilidades, nem políticas nem judiciais. No entanto, o desastre financeiro não aconteceu simplesmente, foi causado ou penos menos tolerado. As culpas não estarão só em Portugal, pois tivemos muita ajuda de fora.

Se não pararmos para re-examinar o descastre orçamental e financeiro, se não tivermos coragem para fazer um post-mortem agora, como vamos evitar que o debacle se volte a repetir?

Como qualquer equipa que perde, resta perguntar honestamente: Se somos todos craques, porque é que estamos no fundo da tabela, porque é que fomos despromovidos para terceira ou quarta divisão?
Que lições de PFM, gestão de finanças públicas, podemos retirar para o futuro?

Vamos ouvir os constitucionalistas, os economistas e não só, pois esta questão toca-nos a todos onde mais doi, no bolso.

Mariana Abrantes de Sousa
*ex-Controladora Financeira

Leia o Prefácio a Roteiro VI na íntegra em http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=43587, ou http://www.presidencia.pt/archive/doc/RoteirosVI_Prefacio.pdf



1 comentário:

  1. A resposta é fácil: a crise é a consequência directa e inevitável do sistema económico em que vivemos.

    Mas tentar perceber isso é como tentar perceber que não é o sol que anda à volta da Terra, não é verdade? Alguém se atreve sequer a discutir o sistema económico?

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