A crise financeira das empresas públicas de transportes pode revelar-se ser uma óptima oportunidade de finalmente levar a cabo as reestruturações e reformas de fundo várias vezes anunciadas (incluindo no PEC 4), mas não aplicadas devido a resistências de vários tipos.
Como seria previsível, os problemas crónicos de solvência reflectem-se agora em problemas agudos de liquidez. Mas as soluções têm que ser soluções de fundo, com base nos três princípios fundamentais de boa gestão de serviços públicos, especialmente a sustentabilidade e o impacto no rating da República:
- Cobertura de serviços justificada
- Qualidade e satisfação de utentes aceitável
- Sustentabilidade e comportabilidade financeira,(quer para o utilizador e quer para o contribuinte)
- empresas estruturalmente deficitárias
- passivo histórico acima de 20 Bn€ (fora as responsabilidades por pensões), a aumentar 2M€/ano
- EBITDA negativo 900-1000 M€/ano
- juros (resultados fin) -1200-1300M€/ano
- perda de passageiros em alguns casos
- sobredimensionadas e extravagantes (ex. grande estação, revestida a pedra italiana, etc)
- IC-Indemnizações compensatórias s insuficientes e serviços públicos não contratualizados pelo Estado
- problemas laborais, greves frequentes com base na posição dominante como monopólio
- falta de orientação para a sustentabilidade financeira
- falência técnica (ex. Transtejo e Softlusa)
Liquidez:
- rotura de tesouraria
- rating BB, junk, especulativo, afasta investidores
- bancos, menos indiferentes ao risco, cortam linhas de crédito, aumentam margens de crédito
- necessidades de 25€M/mês para pessoal e fornecedores
- dívida vincenda em 2011 elevada
Soluções:
- assunção de dívida e passagem de passivo histórico (da CP, REFER, Metropolitano de Lisboa e/ou Metro do Porto) para o Estado
- cortes de salários, de regalias e de pensões, convergindo para os níveis no Estado
- gestão conjunta de operadores públicos de transportes nas Áreas Metropolitanas
- fusões (Transtejo e Soflusa) e extinções de empresas públicas
- cortes nas administrações, chefias e pessoal
- redimensionamento, redução da oferta de serviços
- aumento de tarifas de transportes e passes sociais
- contratualização e revisão das Indemnizações Compensatórias com base no volume de tráfego
- concessões e privatizações, mas sem desorçamentar e sem assumir novos encargos para o Concedente
- revisão da partilha da receita de passes sociais e outros títulos de transporte conjuntos com base na generalização de bilhética sem contacto em Lisboa e Porto
- corte de 15% nas despesas, Planos de Redução de Custos, fixação de tectos máximos para empresas incumpridoras
- limites absolutos ao endividamento das empresas
- maior selectividade de investimento do SEE
- adesão ANCP compras públicas
- unidade de tesouraria (conta bancária única)
- promoção da procura com redução de benefícios fiscais ao transporte individual, com a tributação de carros de empresa em sede de IRC, e em sede de IRS paro o trabalhador
- criação de fundo de apoio aos transportes colectivos, com base em receitas de estacionamento
Quanto maiores forem os ganhos de eficiência, menores serão os cortes em despesas e serviços prestados.
As reestruturações tornaram-se agora inadiáveis, sejam qual forem as outras soluções contempladas. Por exemplo, de nada adiantará fazer privatizações ou concessões se isso implicar aumentos de encargos para o Concedente e para o contribuinte a prazo. Em geral, urge aumentar a transparência e disciplina financeira na gestão das empresas publicas de transportes com a aplicação obrigatória dos princípios do Bom Governo do SEE-Sector Empresarial do Estado, com melhor articulação entre as Tutelas de Transportes e Financeiras.
Mariana Abrantes de Sousa
Eu diria, assunção do passivo histórico da Carris, Metro Lisboa, para os contribuintes da área metropolitana de Lisboa, pois não faz sentido que os cintribuintes de Pinhel ou Bragança, paguem o que não utilizam.
ResponderEliminarO passivo do metro Porto para os da área metropolitana do Porto, e o passivo da CP/Refer, para os contribuintes em geral.
Reduzir os custos astronómicos das administrações e criar uma só administração interempresarial, que coordenasse toda a rede.
Alguns gatos "intocáveis" que necessitam atenção urgente:
ResponderEliminar- custos laborais, do trabalho
- leis laborais
- contratos de concessão e PPPs
- grandes obras públicas
- institutos públicos
- empresas públicas e municipais
- direitos adquiridos (entitlements)
- importação de bens duráveis e não essenciais
- Lei de Enquadramento Orçamental
Os salários dos gestores públicos cresceram 35% entre 2006 e 2009.
ResponderEliminarIGF encontrou irregularidades nas empresas públicas estatais e municipais
http://economico.sapo.pt/noticias/falencias-chegam-a-71-empresas-publicas_121160.html