Enquanto a Troika pondera dar mais 7 anos a Portugal e à Irlanda para reembolsarem os financiamentos externos de emergência, Portugal tem que voltar-se a sério para as reformas estruturais internas.
Protelar os prazos de reembolso dos créditos de emergência é o MÍNIMO que Portugal e a Irlanda poderiam esperar dos credores, agora que finalmente se admite que "Lisbon called the current repayment schedule "impossible" and said it deserved an extension amid a tough austerity drive." Este pode ser o "murro na mesa" que faltava, para ganhar capacidade negocial junto dos credores. É preciso dizer aos credores que "não se pode arrancar sangue a uma pedra". Depois de cortes generalizados de rendimentos de 20-40% já temos autoridade moral para o dizer.
Enquanto a Irlanda precisa do prolongamento para sair da notação de rating especulativa, para convencer a Moody's que a agencia de rating mais renitente, Portugal faz tudo para se colar à Irlanda.
Mas Portugal precisa mais na vertente externa, precisa de reduzir as taxas de juro e precisa de restructurar os prazos de pagamento da dívida existente, a 20 anos e 2%. Regressar ao mercado é um bom objectivo para os operadores, mas é apenas uma condição necessária e não suficiente para sairmos da crise.
As discussões no Eurogrupo, dos Ministros de Finanças da Eurozone (a 17) e a reunião informal do Ecofin (a 27) talvez sirvam para criar novos consensus com os credores. Os MdF e bancos centrais da Eurozone vão falar da (1) união bancária, (2) da estabilidade financeira e do (3) financiamento de investimento e de crescimento na EU. A divergência das balanças comerciais dentro da Eurozone, o problema de fundo, parece não estar sobre a mesa, vá-se lar saber porquê. Será uma verdade inconveniente? Será que o reequilibrio das balanças de pagamento será irrelevante? Ou será uma condição sine qua non para sairmos da crise do sobre-endividamento?
Talvez a barracada (o fiasco) da tentativa de tributar os pequenos depositantes locais no Chipre tenha começado a convencer os decisores, começando pelo Sr. Dijsselbloem, o MdF holandês que preside ao Eurogrupo-17, que até o banco mais pequeno pode ser "relevante para o sistema" bancário europeu quando se ameaçam os pequenos depositantes locais. Aforradores locais que nunca foram parte do problema e têm que ser parte da solução.
Castigaram os pequenos aforradores locais na Grécia, tentaram voltar fazer no Chipre.
Haverá duas sem três?
Se penalizarem os aforradores num terceiro país, o Euro vai desaparecer de vez num buraco negro.
Agora penalizar os contribuintes e trabalhadores para proteger os credores, essa é a austeridade do dia a dia.
O Eurogrupo fala também em mobilizar financiamento para obras públicas e PME's, mas ninguém fala em financiamento à pre-exportação. Afinal de contas, a Alemanha já está bem servida, tem o poderoso KfW. E se a Alemanha não precisa ninguém mais sabe pedir.
Na vertente interna, fica claro que agora que são imprescindíveis cortes permanentes na despesa pública, para conseguirmos um Estado sustentável e uma economia mais competitiva. O congelmento de despesas do MdF e da DGO pode ser visto como o "murro na mesa" na ordem interna, junto da Administração Pública. Boa pergunta do SE Orçamento Luis Morais Sarmento, e ex-DGO, aos deputados que ganham reformas vitalicias em apenas 12 anos:
"que parte da frase -NÃO HÁ DINHEIRO - é que o Sr Deputado não compreende"?
É curioso que as medidas adicionais de cortes na despesa sejam faladas primeiro com os parceiros europeus e com os parceiros sociais. Resta saber se o Governo consegue finalmente cortar nas gorduras, nas ineficiencias que ainda existem. Será que os funcionários públicos vão ficar sujeitos a exclusividade, se vão eliminar organismos ineficazes (em vez de criar novos ministérios ), se vão cortar asviagem gratuitas dos juizes na CP, etc...
O Governo vai ter que fazer tudo que não têm conseguido até agora , aumentar a idade de reforma, cortar nos abusos do RSI, reduzir mais nos subsidios injustificados, e provavelmente despedir funcionários públicos. As Juntas de Freguesia estarão a salvo, por enquanto, pois servem para aplicar carimbos nas fichas dos desempregados, duas vezes por mês! A tributação, em sede de IRS, dos subsídios de doença e de desemprego alinha Portugal com alguns outros países. Como diria Haig-Simons, "rendimento é rendimento" afinal,
Ainda sobre a constitucionalidade da politica orçamental, seria bom que o Tribunal Constitucional opinasse sobre
constitucionalidade do endividamento insustentável. Se a Constituição não evitou a crise, e não ajuda a sair da crise, então terá que ser alterada para evitar a próxima crise. Isto implicaria também um pacto de regime, como o Pacto de la Moncloa, que deveria incluir não só os 3 partidos do "arco do poder", mas todos os partidos com assento parlamentar. Ninguêm pode pôr-se de fora deste barco, à deriva e em risco de afundar-se. Afinal, quem não é parte da solução faz parte do problema.
A mudança, e acrescento, de ministros não nos deve desviar do essencial. Devemos apoiar o trabalho do Governo a tornar o Estado mais sustentável, mais diploma ou menos diploma. Não podemos permitir o afastamento de qualquer politico que comece a mexer com interesses instalados, nem recorrer a politicos estagiários.
Mariana Abrantes de Sousa
PPP Lusofonia
Programa de reembolso impossível "http://www. chicagotribune.com/business/ sns-rt-us-eurozone- dijsselbloem-loansbre93a0g4- 20130411,0,2524698.story.
A caminho de Dublin http://www.reuters.com/ article/2013/04/09/eu-ireland- portugal-idUSB5N0CP00920130409
Novas fontes e formas de financiamento http://www.finance.gov.ie/ documents/publications/ reports/2013/nonbankfundjobs. pdf
Desequilibrios comerciais recorde e a divergência insustentável dentro da Eurozone http://ppplusofonia.blogspot.pt/2013/03/superavit-comercial-aumenta-divergencia.html
Pacto de la Moncloa http://mercadoespanhol.blogspot.pt/2007/07/pactos-de-la-moncloa-e-toledo-lanaram.html
DESCRIÇÃO: A análise dos comentadores do ETV, António Gaspar, Mariana Abrantes de Sousa, Mário Caldeira Dias e Rogério Fernandes Ferreira, num debate conduzido por Sandra Xavier. "Conselho Consultivo" de 12 de Abril de 2013
http://videos.sapo.pt/nbbssSpzsyVOFIYHZua3
Haig-Simons on definitions of income http://dept.econ.yorku.ca/~sam/4070_f07/personal/personal_a.pdf
Concordo, Portugal não precisa de roturas. Precisa de levar o programa de reformas estruturais a bom termo.
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