Ouvir o diálogo de surdos dos políticos na audição do Ministro da Economia na Comissão de Economia e Obras Públicas de 16-Abril-2014 retransmitida hoje só pode deixar-nos incomodados e baralhados co a escassa atenção dedicada aos estudos de viabilidade que deviam estar subjacentes ao programa de investimento público proposto.
As boas praticas de gestão de finanças públicas ditam quais as fases a seguir no processo do investimento público, nomeadamente:
Ver http://www.portugal.gov.pt/media/1385664/PETI3.pdf
As boas praticas de gestão de finanças públicas ditam quais as fases a seguir no processo do investimento público, nomeadamente:
- Estudos de tráfego e de necessidades de serviços públicos e da possibilidade de aplicar tarifas comportáveis aos utilizadores ou necessidade de apoios do Estado e dos contribuintes
- Análise das potenciais soluções técnicas para responder a essas necessidades, de baixo custo e assegurando o breakeven
- Análise das opções de contratação pública potenciais, desde a obra pública com gestão directa até à concessão de obras e/ou serviços públicos
- Estudos de viabilidade económica e atractividade e sustentabilidade financeira para todas as Partes, incluindo os potenciais riscos fiscais e orçamentais
- Identificação das fontes de financiamento e orçamentação e cabimentação dos eventuais encargos quer com obras públicas e com concessões e PPP dentro do enquadramento orçamental plurianual.
O PETI3+ Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas Horizonte 2014-2020, um documento de 122 paginas foi publicado a 16-Abril-2014 representa alguns avanços importantes (ver http://www.portugal.gov.pt/media/1385664/PETI3.pdf). No passado, os Planos de Transportes eram mais parecidos com "wish lists" de Natal de empreiteiros e fornecedor, limitando-se a indicar quantos quilómetros de estradas ou de ferrovia se pretendem construir ou reabilitar.
Uma novidade deste programa de transportes é a identificação de cinco riscos, incluindo o RISCO DE SOBREDIMENSIONAMENTO que pode constituir um desperdício de recursos públicos que devem ser baseados em estimativas de procura rigorosas e prudentes.
Agora fala-se um pouco mais de previsões de procura e até se apresentam seis páginas de análise de riscos. Mas os contribuintes precisam de saber mais. Os nossos representantes na Assembleia da República devem quantificar o "viability gap", isto é, o montante em que os custos de investimento e operação excedem a previsível receita dos passageiros e utentes, e que terá que ser pago pelos contribuintes.
Não parece fácil encontrar os documentos necessários para acompanhar o desenvolvimento do programa de investimento publico.
Começando pelo princípio, o novo PETI já fala de estimativas de procura mas ainda não avança com as previsões de procura subjacentes ao novo programa de investimento no sector de transportes:
- Fraca procura dos aeródromos municipais e grande amplitude de procura peak e off-peak (pg 24)
- Decréscimo de procura nos serviços públicos de transporte de passageiros
- públicos e privados, observado nos últimos anos (pg 25)
- Avaliação das infraestruturas futuras necessárias para os Utilizadores dos serviços e instalações de cada Aeroporto, bem como estudos de procura de tráfego para o período de planeamento (pg 52)
- ..extensão do período de concessão portuárias de movimentação de mercadorias, nos casos em que a procura o justifique (pg 87)
- ... expansão das redes de Metro de Lisboa e Porto nos troços que evidenciem um volume de procura (pg 100)
- ...ofereçam uma resposta adequada às necessidades de mobilidade das populações e melhor enquadrada no volume de procura estimada (pg 100)
- Satisfazer das necessidades básicas de mobilidade da população, de forma eficiente e adequada à procura (pg 107)
- com base em estimativas de procura rigorosas e prudentes (pg 119)
- Estimativas de procura e demais pressupostos que estiveram na base da decisão de realização do projeto (pg 120)
Resta saber: Onde estão os números, os anexos com os estudos de procura e de tráfego?
Os estudos de tráfego prudentes devem ser publicados e discutidos antes de se aprovar e orçamentar o programa ou projecto de investimento, para que o contribuintes não voltem a ser surpreendidos com facturas insustentáveis.
Já agora, o que é a "ambição do Porto de Lisboa" em termos de gestão financeira? Será o estudo de tráfego, a previsão de procura? Ou será um mero sonho politico para contribuinte pagar?
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