Segundo este artigo interessante de Oscar Afonso e Alvaro Aguiar (2004), a saída da crise da balança de pagamentos dos anos 1980s conseguiu-se com um forte aumento na taxa de cobertura de X/M que passou de menos de 50% em 1980-81 para mais 80% em 1986-87 (figura 2).
Para este ajustamento espectacular, Portugal recorreu a todos os instrumentos e ajustamento tradicionais, nomeadamente
- desvalorização cambial para alterar os preços relativos
- subida das tarifas alfandegárias
- subida da taxa de juro real para promover a poupança
- subida de impostos para cortar o consumo, incluindo de bens importados
- promoção das exportações
- restrições de crédito, quase total proibição de credito ao consumo e reorientação do crédito para o sector exportador
- etc ...
Agora que Portugal está numa crise externa ainda mas grave, o que teríamos de fazer para conseguir uma recuperação de 30 pontos percentuais no rácio de cobertura?
Seria possível passar da actual cobertura de 74% para cima de 100%, de défice para superavit na balança comercial?
Alguém duvida que é isto mesmo que temos que fazer, eliminar o défice estrutural externo de uma vez por todas a fim de poder começar a amortizar a enorme dívida externa?
Mais que exportar, vamos ter que fazer cortes violentos nas importações.
Mas a realidade é que ainda não fizemos quase nada para trabalhar para o superavit comercial, e o Natal que se aproxima vai ser mais uma orgia de "artigos importados", a começar pelo "bacalhau da Noruega" e viagens de fim de ano às Caraíbas. O défice comercial nem sequer está no radar dos decisores políticos nem da troika, que insistem em focar os indicadores secundários do défice orçamental.
Recorde-se que estamos a importar alimentos da mesma Noruega que ficou fora do da EU e do Mercado Único a fim de proteger a sua agricultura.
Os ministros de Economia bem têm tentado reorientar as intenções. Manuel Pinho fez um dos primeiros congressos de empresas exportadoras. Alvaro Santos Pereira quer reduzir os defices do sector não-transaccionável e promover as exportações. Está no bom caminho, mas tem que ir mais longe, tem que cortar nas importações.
Apesar de estas tentativas notáveis, ainda estamos a repetir o erro do instrumento: Para quem só tem um martelo, tudo lhe parece um prego. Sem os instrumentos tradicionais de ajustamento, sem politica cambial, sem politica monetária, sem politica de capitais, sem politica de comércio externo, um dos erros de Maastricht é de focar todos os esforços na politica fiscal e orçamental. Mas ainda nos resta a política de crédito, a politica de investimento e essas também devem ser reorientadas para o verdadeiro problema do défice externo.
Compete-nos recordar que a austeridade orçamental é um condição necessária mas não suficiente para sairmos da crise. Pior que um diagnóstico errado, é um diagnóstico ditado pelas fracas soluções disponíveis.
Mariana Abrantes de Sousa
PPP Lusofonia
Ver o artigo de Óscar Afonso e Álvaro Aguiar (2004) "Comércio Externo e Crescimento da Economia Portuguesa no Século XX , ( Faculdade de Economia, Universidade do Porto)
http://www.fep.up.pt/investigacao/workingpapers/04.05.06_WP146_Afonso%20e%20Aguiar.pdf
Ver também Coisas que não lembram à troika
e se a troika estiver errada ?
e One-armed midgets can't guarantee intra-Eurozone adjustment
e Lições da crise de 1982: D. Carlos primeiro nos sacrifícios
e Lessons from past crises - Analytical Deficits
Para este ajustamento espectacular, Portugal recorreu a todos os instrumentos e ajustamento tradicionais, nomeadamente
- desvalorização cambial para alterar os preços relativos
- subida das tarifas alfandegárias
- subida da taxa de juro real para promover a poupança
- subida de impostos para cortar o consumo, incluindo de bens importados
- promoção das exportações
- restrições de crédito, quase total proibição de credito ao consumo e reorientação do crédito para o sector exportador
- etc ...
Agora que Portugal está numa crise externa ainda mas grave, o que teríamos de fazer para conseguir uma recuperação de 30 pontos percentuais no rácio de cobertura?
Seria possível passar da actual cobertura de 74% para cima de 100%, de défice para superavit na balança comercial?
Alguém duvida que é isto mesmo que temos que fazer, eliminar o défice estrutural externo de uma vez por todas a fim de poder começar a amortizar a enorme dívida externa?
Mais que exportar, vamos ter que fazer cortes violentos nas importações.
Mas a realidade é que ainda não fizemos quase nada para trabalhar para o superavit comercial, e o Natal que se aproxima vai ser mais uma orgia de "artigos importados", a começar pelo "bacalhau da Noruega" e viagens de fim de ano às Caraíbas. O défice comercial nem sequer está no radar dos decisores políticos nem da troika, que insistem em focar os indicadores secundários do défice orçamental.
Recorde-se que estamos a importar alimentos da mesma Noruega que ficou fora do da EU e do Mercado Único a fim de proteger a sua agricultura.
Os ministros de Economia bem têm tentado reorientar as intenções. Manuel Pinho fez um dos primeiros congressos de empresas exportadoras. Alvaro Santos Pereira quer reduzir os defices do sector não-transaccionável e promover as exportações. Está no bom caminho, mas tem que ir mais longe, tem que cortar nas importações.
Apesar de estas tentativas notáveis, ainda estamos a repetir o erro do instrumento: Para quem só tem um martelo, tudo lhe parece um prego. Sem os instrumentos tradicionais de ajustamento, sem politica cambial, sem politica monetária, sem politica de capitais, sem politica de comércio externo, um dos erros de Maastricht é de focar todos os esforços na politica fiscal e orçamental. Mas ainda nos resta a política de crédito, a politica de investimento e essas também devem ser reorientadas para o verdadeiro problema do défice externo.
Compete-nos recordar que a austeridade orçamental é um condição necessária mas não suficiente para sairmos da crise. Pior que um diagnóstico errado, é um diagnóstico ditado pelas fracas soluções disponíveis.
Mariana Abrantes de Sousa
PPP Lusofonia
Ver o artigo de Óscar Afonso e Álvaro Aguiar (2004) "Comércio Externo e Crescimento da Economia Portuguesa no Século XX , ( Faculdade de Economia, Universidade do Porto)
http://www.fep.up.pt/investigacao/workingpapers/04.05.06_WP146_Afonso%20e%20Aguiar.pdf
e se a troika estiver errada ?
e One-armed midgets can't guarantee intra-Eurozone adjustment
e Lições da crise de 1982: D. Carlos primeiro nos sacrifícios
e Lessons from past crises - Analytical Deficits
Até que enfim que encontro um blogue que diz as coisas que importa dizer!
ResponderEliminarAgora uma questão que vos deixo: porque é que "ainda não fizemos quase nada para trabalhar para o superavit comercial"? Por ignorância? Por estupidez? Porque temos uma mentalidade de consumidores e não de produtores?
Para alguém que só tem um martelo, tudo lhe parece um prego.
ResponderEliminarMas para um governo só sem política fiscal,nem tudo se pode resolver com o aumento de impostos.
Ver lições de outras crises em
ResponderEliminarhttp://momentoseconomicos.wordpress.com/2011/11/24/licoes-de-historia/
Turism espera receita recorde
ResponderEliminarAs receitas do sector de turismo deverão bater o recorde de €8.000 milhões, representando 10% do PIB, segundo a APAV
Fonte: Diário Económico
Sim, Portugal tem estado mais virado para a importação do que para a exportação, a viver das importações fiadas.
ResponderEliminarUma razão estrutural:
Somos uma pequena economia periférica e frágil, sofremos com as des-economias de escala, de distância, etc. O Krugmaan ganhou o Nobel ao analizar estas questões de "geografia económica".
Uma razão conjuntural:
Andamos a "comer fiado" porque o fornecedor nos fiou. Os défices comerciais acumulados representam grande parte da dívida. Isto é, boa parte do dinheiro que devemos aos bancos alemães, incluindo o Bundesbank, através do sistema TARGET2, foi o financiamento de exportações da Alemanha, BMWs, Mercedes, submarinos, etc.