Quando se auto-congratulavam com a boa nota no exame da Troika V esta semana, os portugueses foram surpreendidos pelo reforço da dose de austeridade, apesar de estarmos no bom caminho. A reacção de contestação geral não se fez esperar.
Até alguns antigos governantes, com responsabilidade directa por boa parte da divida colossal acumulada, questionam para onde vamos, como se não soubessem o longo caminho de ajustamento que ainda nos falta percorrer. Os nossos níveis de consumo continuam insustentáveis. Portugal ainda consome mais do que produz, e ainda que que fazer muito para reduzir o rácio do Consumo/PIB de 86% para abaixo de 80%, mais perto da média europeia. Reduzir o consumo total e aumentar a poupança é um dos objectivos implícitos do programa de ajustamento, o aumento da poupança, mais importante até que a redução do défice orçamental de 5% em 2012 para 4,5% em 2013 e 2,5% em 2014. A Grécia continua a afastar-se da meta, aumentando o rácio de Consumo/PIB para mais de 92%.
"Ninguém teve a noção que ficaríamos mais pobres", dizem antigos governantes. Como não?
Acreditavam que o ajustamento iria ser feito sem dor?
Antigamente reduzia-se o poder de compra real através da desvalorização cambial ou da inflação, ao coberto da ilusão monetária. Agora faz-se com cortes directos, evidentes à vista desarmada.
Se considerarmos que algumas das benesses governamentais dos últimas décadas eram desde sempre insustentáveis, não é de admirar que tenhamos agora que sofrer sacrifícios. Por exemplo, só na Segurança Social, o 14º mês de pensão tem custado cerca de 350 milhões de euros por ano. Financiado por dívida publica ao longo de quase 20 anos, isto representa dívida acumulada de entre 6.000 a 10.000 milhões de euros, com juros sobre juros.
Os portugueses foram aguentando o aumento de impostos, ou evadindo, a avaliar pela forte quebra da receita fiscal. Mas não haverá forma de evadir ou evitar o aumento da TSU, a contribuição dos trabalhadores assalariados para a Segurança Social, de 11% para 18%. A contrapartida deste aumento será numa redução da TSU a pagar pela entidade patronal. Isto pode representar uma redistribuição directa de rendimento dos empregados para os patrões, chocante num país que ainda vive a luta de classes do 25 de Abril. A ideia seria reduzir os custos unitários de trabalho para reforçar a competitividade a nível internacional que alguns especialistas depende mais de outros factores.
Curiosamente, vê-se que ninguém acredita que os empresários portugueses iriam aplicar os fundos assim libertos para reduzir preços ou investir nos mercados de exportação e no reforço dos outros factores de competitividade, tal é a má imagem dos gestores portuguesa. Parece que todos crêem que o balão de oxigénio proporcionado por qualquer redução de custos acabaria por dissipar-se em pagamento de dividendos e compra de carros de grande cilindrada.
Levantam-se dúvidas sobre a equidade e constitucionalidade desta e outras medidas de austeridade, mas ninguém discute a constitucionalidade de ir acumulando défices e de deixar dívidas insustentáveis para os nossos netos e bisnetos pagarem, pois ainda não temos um limite constitucional ao endividamento do Estado.
Se é essencial manter um amplo apoio político e social para o programa de austeridade, vemos agora a criação de um consenso anti-austeridade, especificamente a contestação da re-afectação dos encargos com a Segurança Social das empresas para os trabalhadores. Esta perda do consenso pode ser o custo mais grave desde último pacote de austeridade.
Obviamente, quanto mais duras e abrangentes as medidas de austeridade, mais discutíveis e mais impopulares serão. E curiosamente os antigos governantes, que acumularam dívida e colocaram os vidros no telhado, são os primeiros a atirar a primeira pedra.
Mariana Abrantes de Sousa
PPP Lusofonia
Fonte: Programa de Assistência Financeira a Portugal , e Consumo Total/PIB comparado
Até alguns antigos governantes, com responsabilidade directa por boa parte da divida colossal acumulada, questionam para onde vamos, como se não soubessem o longo caminho de ajustamento que ainda nos falta percorrer. Os nossos níveis de consumo continuam insustentáveis. Portugal ainda consome mais do que produz, e ainda que que fazer muito para reduzir o rácio do Consumo/PIB de 86% para abaixo de 80%, mais perto da média europeia. Reduzir o consumo total e aumentar a poupança é um dos objectivos implícitos do programa de ajustamento, o aumento da poupança, mais importante até que a redução do défice orçamental de 5% em 2012 para 4,5% em 2013 e 2,5% em 2014. A Grécia continua a afastar-se da meta, aumentando o rácio de Consumo/PIB para mais de 92%.
Acreditavam que o ajustamento iria ser feito sem dor?
Antigamente reduzia-se o poder de compra real através da desvalorização cambial ou da inflação, ao coberto da ilusão monetária. Agora faz-se com cortes directos, evidentes à vista desarmada.
Se considerarmos que algumas das benesses governamentais dos últimas décadas eram desde sempre insustentáveis, não é de admirar que tenhamos agora que sofrer sacrifícios. Por exemplo, só na Segurança Social, o 14º mês de pensão tem custado cerca de 350 milhões de euros por ano. Financiado por dívida publica ao longo de quase 20 anos, isto representa dívida acumulada de entre 6.000 a 10.000 milhões de euros, com juros sobre juros.
Os portugueses foram aguentando o aumento de impostos, ou evadindo, a avaliar pela forte quebra da receita fiscal. Mas não haverá forma de evadir ou evitar o aumento da TSU, a contribuição dos trabalhadores assalariados para a Segurança Social, de 11% para 18%. A contrapartida deste aumento será numa redução da TSU a pagar pela entidade patronal. Isto pode representar uma redistribuição directa de rendimento dos empregados para os patrões, chocante num país que ainda vive a luta de classes do 25 de Abril. A ideia seria reduzir os custos unitários de trabalho para reforçar a competitividade a nível internacional que alguns especialistas depende mais de outros factores.
Curiosamente, vê-se que ninguém acredita que os empresários portugueses iriam aplicar os fundos assim libertos para reduzir preços ou investir nos mercados de exportação e no reforço dos outros factores de competitividade, tal é a má imagem dos gestores portuguesa. Parece que todos crêem que o balão de oxigénio proporcionado por qualquer redução de custos acabaria por dissipar-se em pagamento de dividendos e compra de carros de grande cilindrada.
Levantam-se dúvidas sobre a equidade e constitucionalidade desta e outras medidas de austeridade, mas ninguém discute a constitucionalidade de ir acumulando défices e de deixar dívidas insustentáveis para os nossos netos e bisnetos pagarem, pois ainda não temos um limite constitucional ao endividamento do Estado.
Se é essencial manter um amplo apoio político e social para o programa de austeridade, vemos agora a criação de um consenso anti-austeridade, especificamente a contestação da re-afectação dos encargos com a Segurança Social das empresas para os trabalhadores. Esta perda do consenso pode ser o custo mais grave desde último pacote de austeridade.
Obviamente, quanto mais duras e abrangentes as medidas de austeridade, mais discutíveis e mais impopulares serão. E curiosamente os antigos governantes, que acumularam dívida e colocaram os vidros no telhado, são os primeiros a atirar a primeira pedra.
Mariana Abrantes de Sousa
PPP Lusofonia
Fonte: Programa de Assistência Financeira a Portugal , e Consumo Total/PIB comparado
O país acabou de “cair na real” a respeito dos cortes de consumo verdadeiramente necessários para fazer descer o C/PIB de 86% para 80%,
ResponderEliminarAfinal verifica-se que uma subida do TSU dos trabalhadores é bem mais visível, palpável e difícil de evadir de que um aumento do IVA…
Mas os governantes dos últimos 30 anos, que gastaram boa parte da receita fiscal dos próximos 30 anos por antecipado, têm pouca autoridade para contestar. Eles foram parte do problema, dificilmente vão ser parte da solução.
...embora gostasse que os manifestantes tivessem saído à rua quando os analistas começaram a alertar para onde nos levava o despesismo dos últimos anos...
ResponderEliminarComentário ao artigo do The Economist sobre a manifestação de 15-Setembro:
ResponderEliminar..."não era uma manifestação contra a austeridade, mas sim contra o Estado por não fornecer um exemplo em austeridade"...
Nem mais