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domingo, abril 29, 2012

Quantas horas tem o dia deste senhor?

É rara a semana que não recebemos uma mensagem a questionar se o senhor  A  ou  B  or  C   tem tempo útil  para assumir mais um cargo público ou privado, se o seu dia tem mais de 24h, em resumo, se Portugal está a ser bem servido pelos seus craques de economia e política.
Infelizmente esta é uma pergunta persistente.  Já no tempo do Marquês de Pombal, ele tinha um pequeno número de colaboradores próximos, homens de confiança, a quem entregava diversas funções, às vezes com maus resultados.  No livro "Pombal, Paradox of the Enlighenment" (1995), o historiador Kenneth Maxwell recorda que os subordinados da "junta de providência literária" foram acusados de vender livros sob a sua guarda enquanto as chefias estavam distraídas (pg 106).
Em 1775, com Lisboa em ruínas, Pombal governava com um "grupo de colaboradores muito pequeno",  não só porque o número de letrados  era muito reduzido numa população maioritariamente analfabeta, mas também devido à sua veia autoritária de "déspota esclarecido".
Passados dois séculos, um investimento colossal na educação e várias revoluções democratizantes (de 1820, de 1891, de 1910,  de 1974,  a elite  portuguesa já não é tão minúscula, nem a sociedade portuguesa tão hierarquizada como há 250 anos atrás.  
Mas a tradição dos "monopólio dos cumes do poder" continua bem visível um pouco por todo o país, desde as grandes empresas cotadas em bolsa como nos mais  pequenos municípios do interior. O medo da fragmentação do poder no pós-25-de-Abril levou os redactores da Constituição da República Portuguesa a reforçar os partidos políticos, então embriónicos, com o monopólio da selecção de candidatos anónimos e mais ou menos substituíveis.  Por isso, os eleitores portugueses não conhecem nem responsabilizam os seus representantes nas Assembleias Municipais nem na Assembleia da República.  E ai do deputado que se atreva a pensar por si próprio e a romper a rígida disciplina de voto como fez Ribeiro e Castro recentemente
O debate sobre exclusividade, incompatibilidades e conflitos de interesse continua, especialmente entre políticos e funcionários públicos.   Os deputados e vereadores podem manter a sua actividade profissional, pois com a disciplina de voto não precisam de grande tempo para estudar os assuntos.  Toda a gente pode dar aulas, mas os professores podem faltar se tiverem outros afazeres, como sabe  qualquer criança de 10 anos cujas "stora" tem uma loja.  Os médicos podem trabalhar no SNS público e em clínicas privadas, para melhor angariar clientes.  
No sector empresarial, as empresas portuguesas têm mais  administradores,  mas menos mulheres do que outras empresas  europeias. Segundo um relatório da  Heidrick & Struggles, só as empresas alemãs tem mais administradores, mas bastante mais diversificados e profissionalizados, e sobretudo com melhores resultados.
E  temos que reconhecer que os resultados da má governação em Portugal têm sido desastrosos. Desde que o Instituto Português de Corporate Governance publicou o "Livro Branco sobre Corporate Governance em Portugal" em 2006, caímos numa das maiores  crises económicas da nossa memória.
E que ninguém nos venha governar, nem os romanos conseguiram.   A boa governação é um projecto "do-it-yourself".   A arte de "bem governar" tem que ser diferente de "governar-se bem".   Se queremos ser melhores resultados, se queremos deixar de ser um país fracassado,  temos que assumir a responsabilidade de nos governarmos melhor, em todas as colectividades,  desde a associação de bairro, às empresas, e à Assembleia da Republica.
E você,  vai continuar a fazer parte do problema da má governação , ou vai fazer parte da solução?
Pode começar por descobrir o nome do "seu" deputado na Assembleia da República e escrever-lhe sobre o que o aflige.
Será que o "seu" deputado lhe vai responder?
Mariana Abrantes de Sousa
PPP Lusofonia

Literacia subiu muito mas ainda fica abaixo da média http://ppplusofonia.blogspot.pt/2009/05/improving-literacy-must.html
Mais administradores não garantem melhores resultados http://economico.sapo.pt/noticias/so-as-cotadas-alemas-tem-mais-administradores-que-portuguesas_113718.html
Deputados para que te quero  http://maiortv.com.pt/politica/01-noticias/blindar-deputados-586.php
Quando a má governação não é defeito, è feitio http://ppplusofonia.blogspot.pt/2012/03/cansadode-ouvir-falar-de-e-de-ppps-eu.html
Como chegámos ao rating de lixo http://ppplusofonia.blogspot.pt/2012/03/no-prefacio-cavaco-silva-comeca-colocar.html
A favor da boa governação http://www.cgov.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=16&Itemid=14

4 comentários:

  1. A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos.
    (Mia Couto)

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  2. O problema não está na fartura de cargos,
    está na escassez de resultados!

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  3. Canudo aos 17, 27 ou 37 anos pouco importa.
    O mais importante não é a pessoa mas o que ele está a fazer, se está a tornar Portugal mais sustentável a prazo.
    Alguns, na idade dele, já tinham levado várias empresas à falência, ou até países inteiros.

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  4. Nos grandes círculos como o de Lisboa que elege 48 deputados, os eleitores nem sabem em quem estão a votar. Na prática, quem acaba por escolher os deputados são as direcções partidárias.
    Numa intervenção recente em Algíes, André Freire, professor de sociologia no ISCTE, defendeu a criação de pequenos circulos de 5-6 deputados eleitos através de listas abertas e por maioria absoluta, que leva a uma maior cooperação entre forças políticas devido à necessidade de alianças.

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