Uma vez que as decisões importantes para Portugal são
tomadas cada vez mais em Frankfurt, em Bruxelas ou em Madrid, a voz de Portugal
tem de ser mais eficaz e mais ouvida, especialmente no momento em que se está a
cortar e a partilhar mais um “bolo”, o novo Fundo Europeu de Recuperação.
A análise da despesa pública de Espanha com transportes
parece não ter considerado a importância para Portugal das decisões da política
de transporte ferroviário tomadas em Madrid.
Este estudo da AIReF que aborda o investimento acumulado
desde a adesão de à EU (em 1986) até 2018 é importante para Portugal como
exemplo e porque destaca três elementos críticos:
- O tráfego de passageiros da Alta Velocidade tem ficado muito
abaixo e das previsões de procura, com desvios negativos de menos 38% a menos
53% das previsões mais otimistas.
- Os custos de investimento na Alta Velocidade derraparam, com
desvios de 33% a 58% acima do orçamentado nos diversos troços do AVE. No período desde 2000, mais de 20% do
investimento foi financiado por fundos EU, pelo nem todo o excesso de custos
teve que ser suportado pelos contribuintes espanhóis.
- Segundo a AIReF, o investimento nos comboios pendulares,
de Cercania, tem sido negligenciado, ficando muito abaixo dos investimentos na
Alta Velocidade em cada um dos anos do período. Um artigo de The Economist recorda
a situação na Extremadura espanhola, a região mais pobre da Espanha continental,
onde as antigas locomotoras a diesel levam seis horas para cobrir os 400 km entre
Madrid e Badajoz. Eis aqui o “tio de Londres”, sediado em Madrid, que também se
esquece de referir que logo depois de Badajoz está Elvas, e mais adiante
Lisboa. Compete aos portugueses salientar que um pequeno desinvestimento na linha
ferroviária Madrid-Badajoz é na verdade um GRANDE desinvestimento na linha
Madrid-Lisboa. O relatório fala no serviços para "la frontera francesa", mas não para "la frontera portuguesas".
- No entanto, a AIReF aponta para uma lista de projetos de investimento
em infraestruturas bastante extensa e controversa, e acima da capacidade de
execução física e orçamental. Isto faz levantar críticas pelos atrasos e
pressões que acabam por dar a prioridade a “obras de menor importância
estratégica” para Espanha. E ignorando
as necessidades de Portugal, devemos acrescentar nós.
Mariana Abrantes de Sousa , Economista
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Ver Relatório AIReF https://www.airef.es/wp-content/uploads/2020/07/INFRAESTRUCTURAS/ESTUDIO_INFRAESTRUCTURAS_SPENDINGREVIEW.pdf
Ver artigo The Economist https://www.economist.com/europe/2020/08/08/spains-high-speed-trains-are-poor-value
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