Foi necessário sair de
Portugal para ouvir falar de minifúndios.
Começando por estudar Economia Agrária na
universidade UC Berkeley, descobri que os terrenos e quintais da minha aldeia
beirã afinal não passavam de minifúndios, e que não tinham escala
economicamente viável, nem sequer para a agricultura de subsistência de então.
Passadas várias décadas (!), a palavra minifúndio continua a não aparecer no vocabulário de especialistas setoriais nem de governantes portugueses, apesar das consequências do rendilhado rural serem cada vez mais graves.
Estive a ler um pouco sobre o novo Plano de Recuperação e Resiliência para Portugal que parece tratar mais da Transição Climática (para o crescimento VERDE), do que propriamente de Mitigação Climática e de Adaptação Climática. Sendo Portugal um dos países europeus mais vulneráveis às Alterações Climáticas, deveríamos focar esforços na Adaptação Climática em Portugal desde logo para reduzir riscos e impactes negativos.
Por exemplo:
Eu considero que juntar as tirinhas de
terrenos de minifúndio seria um bom projeto de Adaptação Climática:
- Os terrenos de minifúndio são
não-económicos, isto é, não dão para cultivar, nem para plantar árvores, pois
atualmente isto só compensa quando é feito em grande escala. Estes terrenos do
"marcha-atrás", onde "trator não entra" ou não consegue dar
a volta para sair, são um foco de riscos para os vizinhos, próximos e
distantes.
-O agravamento da amplitude térmica
derivado das Alterações Climáticas, mais chuva no inverno e mais calor no
verão, junta-se com a desertificação e com o abandono agrícola para criar a
"tempestade perfeita" que agrava fortemente o risco e as
consequências de incêndios florestais.
- Devemos reconhecer
que é necessário "pagar a quem faça a gestão de biomassa nos territórios
desocupados". Isto chama-se "pagamento por serviços eco sistémicos"
e é um dos principais mecanismos de Adaptação às Alterações Climáticas.
O Fundo Verde do Clima subsidia "serviços eco sistémicos" na Amazónia com o REDD+, um mecanismo importante, apesar de não ser panaceia e de ser algo polémico uma vez que o desmatamento ilegal continua. (favor ver https://www.greenclimate.fund/project/fp100)
Também em Portugal temos que passar a subsidiar a reflorestação e a gestão anual da biomassa, especialmente nos minifúndios, pois sem sustentabilidade económica a nível local, nunca haverá sustentabilidade ambiental e segurança a nível global.
Os fogos selvagens não respeitam
estremas, nem sabem se o proprietário é o Estado, um emigrante ou a velhinha de
85 que está num lar. Agregar propriedades e proprietários é essencial para
fazer face aos riscos climáticos cada vez mais graves.
Os custos socioeconómicos de ignorar a realidade rural de minifúndios abandonados, que não valem nem o custo da escritura barata de doação, contam-se em hectares ardidos e em vidas perdidas.
Não há panaceias. Se não se evitam incêndios descontrolados, pouco se podem combater
Mariana Abrantes de Sousa, Economista
Ver também Custo de Oportunidade do Minifúndio https://ppplusofonia.blogspot.com/2020/02/agricultura-pt-custo-de-oportunidade-do.html
RCM 53/2020, pg 139 ... os países do sul da Europa apresentam maiores vulnerabilidades e menores oportunidades com as alterações climáticas, quando comparados com as outras sub -regiões do continente europeu, e sofrerão mais os efeitos da mortalidade humana relacionada com o calor, das restrições de água, da perda de habitats, das necessidades de energia para arrefecimento e dos incêndios rurais. Estimam-se perdas de -0,2 % do PIB no norte da Europa do Norte e perdas de-3 % no Sul da Europa.
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