Das causas e consequências às soluções para a crise financeira de sobreendividamento:
Desta vez vai ser diferente
Naquele tempo, em 1981-83, Portugal sofria de uma crise de balança de pagamentos clássica, causada sobretudo pelos choques externos do aumento dos preços do petróleo, agravados pela instabilidade política-económica do pós revolução.
As soluções então oaplicadas à crise cambial também foram clássicas: desvalorização do Escudo, aumento das taxas de juro domésticas, aumento de impostos e redução de despesa pública e do défice orçamental, tudo sob o acompanhamento atento e com apoio financeiro condicionado do FMI.
Em 2008-10, na era do Mercado Único e da Moeda Única, a crise financeira é diferente. Quase não se houve falar do défice externo. Há mesmo analistas que opinam que “o Euro tornou possível evitar crises cambiais”, uma ilusão lamentavelmente persistente. Ainda em Janeiro 2011, analistas de bancos europeus como o BNP Paribas afirmavam que “wider current account deficits can be considered normal in a monetary union, which is free from foreign exchange risk ….and subject to greater trade specialization…"
Mas quem ignora a existência da Balança de Pagamentos acaba por pagar caro esse descuido. Com o Eurostat focado na forma da despesa e dívida pública e não na sua substância, até os critérios Maastricht e os PEC – Programas de Estabilidade e Crescimento, se revelaram ineficazes e fáceis de contornar.
De facto, os défices externos são mais críticos do que nunca com o Mercado Único e a Moeda Única. Sem as tarifas alfandegárias e controlo de capitais, as economias mais pequenas e mais frágeis ficam expostas à degradação dos termos de troca, agravada pelas deseconomias de escala. A entrada excessiva de capitais, frequentemente na forma de funding de curto prazo para activos domésticos de longo prazo, funcionaram como “hot money” que aqueceu as bolhas até rebentarem. Como sempre, os défices comerciais e da balança de transacções correntes continuam a ter que ser financiados por dívida externa, ainda que agora seja denominada em Euros. Sem o alerta prévio da “crise cambial” habitual, a pressão sobre o preço da moeda, a acumulação de dívida externa pode continuar até se tornar insustentável e resultar numa “crise de sobreendividamento”. Para efeitos de gestão da dívida, a Moeda Única funciona como uma moeda estrangeira, pois não está sob o nosso controlo, não podemos desvalorizar, nem podemos gerir a taxa de juro.
Entre as causas da crise de endividamento externo continuamos e encontrar a falta de competitividade, os défices internos e externos, o excesso de importações, mas sobretudo a sobre-expansão do crédito interno.
A acumulação de dívida externa bruta revelou-se bastante mais grave do que a dívida publica, pois a desorçamentação tinha passado boa parte do défice público para as empresas públicas e as concessionárias de contratos de PPP.
Entre as causas da crise de endividamento externo continuamos e encontrar a falta de competitividade, os défices internos e externos, o excesso de importações, mas sobretudo a sobre-expansão do crédito interno.
A acumulação de dívida externa bruta revelou-se bastante mais grave do que a dívida publica, pois a desorçamentação tinha passado boa parte do défice público para as empresas públicas e as concessionárias de contratos de PPP.
Entre as consequências da crise, agora já não encontramos as pressões cambiais e as desvalorizações que serviam de sinais de alerta. Agora a dívida continua a acumular, até se reflectir no aumento dos prémios de risco, na redução de liquidez e no corte de acesso ao financiamento externo. Os ratings são agravados e põem em causa a sustentabilidade da dívida.
A redução da lista de potenciais soluções é a grande diferença na crise actual, mas haverá medidas mais antigas às quais se terá que voltar recorrer, incluindo:
- Cortes no crédito ao consumo, especialmente no financiamento de bens duráveis quase sempre importados, com penalizações em termos de tributação especifica, imposto do selo, provisões para perdas de crédito, etc.
- Proibição do financiamento de automóveis não comerciais e outros bens e serviços de luxo, não essenciais
- Aumento de reservas de caixa para os bancos
- Aumento das taxas de juro reais, não só para devedores, mas também para os aforradores, a fim de estimular a poupança.
- Aumentos de tarifas de serviços públicos para reduzir necessidades de financiamento de empresas publicas
- Controlo de endividamento de empresas do sector empresarial do Estado
- Reduções de subsídios a famílias e empresas
- Cortes nos salários e nas pensões de reforma
- Benefícios fiscais à poupança, incluindo à poupança emigrante
Há muitas formas de encolher o défice, fazer a desorçamentação das contas públicas e fazer boa figura em Bruxelas.
ResponderEliminarÀ moda grega ou à portuguesa.
Os gregos são mais descarados.
... Gaming Maastricht...
Jogar às escondidas com os critérios Maastricht tem vantagens também para os países credores
O REI (do Sector Empresarial do Estado) VAI NU,
ResponderEliminardizem, finalmente, as agéncias de rating.
Além do Metropolitano de Lisboa, também a CP - Comboios de Portugal, a REFER - Rede Ferroviária Nacional e a Parpública viram os seus "ratings" cortados pela Standard & Poor's
CDSs,credit default swaps, naked or otherwise, are not the problem.
ResponderEliminarSo what is the problem?
The excessive external debt/exposure problem was probably caused by gross mispricing of cross-border risk, sovereign and otherwise, within the Eurozone and in general between surplus and deficit countries.
If the nakedness of the CDS market is so valuable to the efficiency of the cross-border credit markets, why did they fail to give the proper price warnings early enough to avoid the accumulation of external debt to unacceptable levels?
In the absence of the FX price signals within the Eurozone, we surely need more effective credit price warnings, but if the CDS market had really been up to the job, we would probably have avoided the current external debt mess.
The "ridiculously low" BASEL risk weights should be seen as merely indicative be professional creditors, unless they've just been doing "banking by numbers", instead of doing their own homework, as they are very well paid to do.
"But if there is one universal lesson from the recent past, it is that leverage is lethal!"
ResponderEliminarThere's only one way out of the huge trade and current account imbalances:
ResponderEliminarCut the external deficits AND cut the external surpluses.
Cant´t have one without the other.
SILVA LOPES
ResponderEliminarLusa 04 Abril 2011
O economista Silva Lopes considerou hoje que o corte das despesas em Portugal tem de ser feito nos produtos com grande conteúdo de importações, pelo que sugeriu "tributar fortemente" o crédito ao consumo.
Agora vêm economistas a exigir um inquérito às agências de rating...
ResponderEliminarQue triste desorientação.
Porque não pedem o inquérito que verdadeiramente falta, o inquérito ao excesso de despesa, aos investimentos sem estudos de custo-benefício, às empresas públicas e municipais em roda livre, às PPPs, etc.
Não chega ver um cisco nos olhos dos outros ,tambem temos a obrigação de ver a tranca nos nossos!