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sexta-feira, dezembro 21, 2012

Ficam os anéis


Apesar de cerca de uma dezena de manifestações de interesse na TAP, apenas um  pretendente, o accionista da AVIANCA/TACA, apresentou uma proposta vinculativa.  E mesmo esse não demonstrou capacidade financeira suficiente para pagar cerca de €35 milhões ao Estado, recapitalizar a TAP em €330 milhões e libertar as garantias dos Estado ao assumir a dívida de €1,2 biliões.  E parece o Efromavich tão pouco gozava do apoio dos pilotos e outros trabalhadores que têm outros €200 milhões em pensões a receber da TAP.  Aliás, o  SPAC, o sindicato dos pilotos,  reclama 20% da empresa,  provavelmente a  um módico preço zero.  Tudo isto para um grupo com EBITDA de cerca de €110 milhões e perdas de €77 milhões em 2011. As avaliações iniciais dos quatro bancos de investimento mandatados para fazer o negócio apontavam para €1,2 biliões. 

Em tempo de crise, quem comprou o que não podia, tenta vender o que não quer,  mas  é se puder.  
Para vender bem é necessário que haja compradores, mas os  potenciais investidores estratégicos  europeus  andam  mais que ocupados com a reestruturação das suas próprias operações deficitárias.  Segundo a IATA, o prognóstico para transportadoras aéreas europeias é de maiores perdas em 2012 devido ao impacto da crise e da queda de tráfego.   A Ibéria, que agora faz parte do IAG  com a British Airways , talvez consiga um novo fôlego com o corte de cerca de 50% dos salários acordado esta semana com os seus pilotos.   Parece que a TAP continua de fora da consolidação do sector a nível europeu. 

Confrontados com uma única proposta difícil de aceitar, o Governo assumiu a decepção e  não aceitou.  Mas ao cancelar a operação, o Estado passou a bola para os trabalhadores, desafiando-os a ajudar a recuperar a  empresa e a torná-la sustentável

O cancelamento da privatização parece estar a ser vista como uma vitória para os trabalhores, o que não passará de uma vitória pírrica. 

Com situação liquida negativa de cerca de €377 milhões em 2011, e planos ambiciosos de expansão e de renovação de frota, a TAP precisa de ser recapitalizada.  Mas qualquer investidor privado exigiria uma reestruturação de fundo para acabar com as perdas,  um saneamento financeiro e a reestruturação de divida existente.   Isto quer dizer que a TAP tem que ser reestruturada  seja quem for o accionista,  como está a acontecer com a   Ibéria  e outras, sob pena de desaparecer como aconteceu com  TWA e a PAN AM.  Vamos certamente ver  medidas  como  reduções nos destinos (agora 200), na frota (77 aviões),  e nos gastos com pessoal .  E sobretudo, cortes  nos negócios não rentáveis como algumas linhas e a manutenção no Brasil. 

Mas as normas europeias ditam que os "investimentos" ou apoios do Estado têm que  obedecer a condições comerciais,uma espécie de benchmarking com o mercado agora praticamente inexistente.  Talvez o Estado possa justificar a recapitalização da TAP no mesmo montante e nos mesmos termos "comerciais"  propostos por  Gérman Efromovich,   E sobretudo, o Estado tem que encontrar uma maneira de limitar a acumulação de divida e passivos de uma vez por todas,  e de libertar as garantias implícitas e explicitas do Estado 

A TAP é o "inquilino âncora" da ANA, a única companhia aérea com "hub" em Portugal, com mais de 60% do tráfego de Lisboa. por isso a TAP tem que ser parte da solução, não pode causar problemas ao sector importantíssimo do turismo. 

Como "passageira frequente" da TAP Air Portugal, faço votos para que a nossa pequena mas excelente transportadora aérea consiga  resistir e ultrapassar a  turbulência do sector e do país, alcançando a sustentabilidade e deixando de passar facturas para o contribuinte.   

Mais vale guardar os anéis, sim, mas é essencial pô-los a render.
  
Mariana Abrantes de Sousa 
Fontes:  El País 

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