Apesar de cerca de uma dezena de manifestações de interesse na TAP, apenas um pretendente, o accionista da AVIANCA/TACA, apresentou uma proposta vinculativa. E mesmo esse não demonstrou capacidade financeira suficiente para pagar cerca de €35 milhões ao Estado, recapitalizar a TAP em €330 milhões e libertar as garantias dos Estado ao assumir a dívida de €1,2 biliões. E parece o Efromavich tão pouco gozava do apoio dos pilotos e outros trabalhadores que têm outros €200 milhões em pensões a receber da TAP. Aliás, o SPAC, o sindicato dos pilotos, reclama 20% da empresa, provavelmente a um módico preço zero. Tudo isto para um grupo com EBITDA de cerca de €110 milhões e perdas de €77 milhões em 2011. As avaliações iniciais dos quatro bancos de investimento mandatados para fazer o negócio apontavam para €1,2 biliões.
Em tempo de crise, quem comprou o que não podia, tenta vender o que não quer, mas é se puder.
Para vender bem é necessário que haja compradores, mas os potenciais investidores estratégicos europeus andam mais que ocupados com a reestruturação das suas próprias operações deficitárias. Segundo a IATA, o prognóstico para transportadoras aéreas europeias é de maiores perdas em 2012 devido ao impacto da crise e da queda de tráfego. A Ibéria, que agora faz parte do IAG com a British Airways , talvez consiga um novo fôlego com o corte de cerca de 50% dos salários acordado esta semana com os seus pilotos. Parece que a TAP continua de fora da consolidação do sector a nível europeu.
Confrontados com uma única proposta difícil de aceitar, o Governo assumiu a decepção e não aceitou. Mas ao cancelar a operação, o Estado passou a bola para os trabalhadores, desafiando-os a ajudar a recuperar a empresa e a torná-la sustentável.
O cancelamento da privatização parece estar a ser vista como uma vitória para os trabalhores, o que não passará de uma vitória pírrica.
Com situação liquida negativa de cerca de €377 milhões em 2011, e planos ambiciosos de expansão e de renovação de frota, a TAP precisa de ser recapitalizada. Mas qualquer investidor privado exigiria uma reestruturação de fundo para acabar com as perdas, um saneamento financeiro e a reestruturação de divida existente. Isto quer dizer que a TAP tem que ser reestruturada seja quem for o accionista, como está a acontecer com a Ibéria e outras, sob pena de desaparecer como aconteceu com TWA e a PAN AM. Vamos certamente ver medidas como reduções nos destinos (agora 200), na frota (77 aviões), e nos gastos com pessoal . E sobretudo, cortes nos negócios não rentáveis como algumas linhas e a manutenção no Brasil.
Mas as normas europeias ditam que os "investimentos" ou apoios do Estado têm que obedecer a condições comerciais,uma espécie de benchmarking com o mercado agora praticamente inexistente. Talvez o Estado possa justificar a recapitalização da TAP no mesmo montante e nos mesmos termos "comerciais" propostos por Gérman Efromovich, E sobretudo, o Estado tem que encontrar uma maneira de limitar a acumulação de divida e passivos de uma vez por todas, e de libertar as garantias implícitas e explicitas do Estado
A TAP é o "inquilino âncora" da ANA, a única companhia aérea com "hub" em Portugal, com mais de 60% do tráfego de Lisboa. por isso a TAP tem que ser parte da solução, não pode causar problemas ao sector importantíssimo do turismo.
Como "passageira frequente" da TAP Air Portugal, faço votos para que a nossa pequena mas excelente transportadora aérea consiga resistir e ultrapassar a turbulência do sector e do país, alcançando a sustentabilidade e deixando de passar facturas para o contribuinte.
Mais vale guardar os anéis, sim, mas é essencial pô-los a render.
Mariana Abrantes de Sousa
Fontes: El País
A TAP não aguenta um ano sem ser reestruturada.
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