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segunda-feira, janeiro 31, 2011

A revisão do modelo de finanaciamento das Estradas de Portugal deveria passar pela re-orçamentação e re-integração na AP

O modelo de financiamento do sector rodoviário e das Estradas de Portugal, SA, que data de 2007, já está a ser objecto de uma revisão, a quarta desde que a antiga JAE-Junta Autónomo de Estradas foi transformada em diversos institutos em 1999.  
 
A actual situação financeira das Estradas de Portugal, SA reflecte a implementação inconsistente do modelo de financiamento definido em 2007-8.   Actualmente, a EPSA reporta elevados níveis de endividamento no balanço, níveis ainda mais elevados de encargos fora do balanço, nomeadamente encargos com contratos de concessão tais como o pagamento de tarifas de disponibilidade.  A EPSA demonstra também dificuldade em financiar activos de muito longo prazo, e a necessidade de recorrer a avales do Estado que lhe estavam inicialmente vedados. 

Assim, o modelo de financiamento da empresa Estradas de Portugal, SA está a ser objecto de uma revisão de fundo, uma vez que a empresa passou a estar cada vez mais exposta  a riscos económicos como os riscos de tráfego, e a riscos financeiros como o risco de taxas de juro e risco de refinanciamento, apesar de apresentar fortes aumentos de resultados.   

Sendo verdade que a EPSA está a sofrer devido à crise financeira geral, deve-se reconhecer que a implementação do modelo de financiamento do sector rodoviário ficou bastante aquém do rigor e transparência originalmente previstos.  

De acordo com os Estatutos da Estradas de Portugal, SA, caberia sempre ao Estado-Concedente a definicção do programa de investimento, ficando a EPSA com liberdade e a responsabilidade do seu financiamento e execução. Com uma gestão financeira autónoma, a  EPSA podia, e devia, ter invocado a cláusula 26   do contrato de concessão para moderar o programa de investimento, se o considerasse excessivamente pesado ou prejudicial para a sua boa situação financeira.  Na pratica, a EPSA veio a assumir cada vez mais riscos, especialmente riscos de tráfego, ao aceitar a renegociação e transformação de contratos de concessão sob condições onerosas.  As renegociações involvem quase sempre a reafectação contratual de riscos, o  que é visto como impensável noutros países.  A empresa pouco fez para compensar o risco de tráfego nas receitas da Contribuição de Serviço Rodoviário, (que caíram -1% em 2010) que era a principal novidade no modelo de financiamento de 2007, e a maior alteração em toda a história do financiamento das estradas em Portugal. 

Nestes anos, tornou-se evidente que a gestão estratégica, contratual e financeira das Estradas de Portugal, SA não foi suficientemente independente para defender o bom “rating” da empresa e o acesso directo aos mercados financeiros. 

Ao contrário do previsto nos Estatutos e nas Bases da Concessão, o Estado foi obrigado a conceder garantias de pagamento-  Igualmente, a EPDS continua no perímetro de consolidação da Administração Pública, apesar de ter a forma e os encargos de uma sociedade anónima independente.  

Sendo que o Orçamento de Estado disciplina a despesa e os encargos anuais e plurianuais da Administração Pública, e que o mercado acaba por disciplinar as empresas comerciais privadas, verificamos que faltam instrumentos para disciplinar a despesa e acumulação de passivo do Sector Empresarial do Estado.  

Devemos reconhecer que de nada adiantou tentar tirar a Estradas de Portugal, ou a REFER, ou os Hospitais EPE, do perímetro do défice e da dívida da AP.   Esses processos de reestruturação, prometedores em teoria, foram  mal geridos na pratica, o que apenas serviu para acumular maiores encargos e prejudicar a credibilidade da gestão orçamental portuguesa. Esta “desorçamentação sem despolitização” já não convence ninguém, nem o próprio Eurostat que obrigou a Grécia a reintegrar várias empresas públicas na AP. Quanto ao mercado, esse deixou-se distrair durante algum tempo, mas agora os investidores estão de alerta e atentos à substância de empresas públicas de cash flow estruturalmente deficitário, independentemente da sua forma de empresas mais ou menos comerciais.   

O que tem que ser feito não é “reclassificar despesa e divida” para fora da AP, mas sim REDUZIR a despesa e CONTROLAR a divida do sector público alargado (incluindo institutos e empresas públicas), e sobretudo reduzir o endividamento externo e os riscos orçamentais para o futuro do país. 

Infelizmente, parece ser já demasiado tarde para reduzir os encargos directos e indirectos do contribuinte com as Estradas de Portugal e com o sector rodoviário.  Poder-se-á ainda evitar que mais contratos de concessão e subconcessão sejam renegociados com passagem de riscos e prejuízos para o Concedente, com tem acontecido no passado recente.  O melhor que se pode dizer de algumas destas renegociações é que não cumprem os princípios de transparência e boa governação para a sustentabilidade. 

Mas ainda podemos ir a tempo para recuperar a credibilidade, a eficiência e o profissionalismo da gestão financeira do sector rodoviário.  Para isso, a Estradas de Portugal bem podia voltar a ser transformada em Instituto Público, com reintegração da receita, da despesa, do passivo e de outros encargos na Administração Pública.  Esta “re-orçamentação” teria algum impacto negativo imediato, pois tornaria visível alguns custos e encargos que poderiam vir a surpreender quer o mercado e quer os contribuintes.  Mas os benefícios deste “sinceramento” e transparência seriam bastante tangíveis a prazo, ao voltar a reenquadrar todo o sector rodoviário na Lei de Enquadramento Orçamental, e  a garantir  uma gestão mais rigorosa, conservadora e devidamente orçamentada e enquadrada no Orçamento do Estado. 

Considerando a natureza da empresa e do sector, este seria um contributo imprescindível para a credibilização da gestão orçamental portuguesa.   

Mariana Abrantes de Sousa

Nota: Segundo o preâmbulo do - Decreto-Lei n.º 374/2007 de 7 de Novembro que estabeleceram os Estatutos da empresa Estradas de Portugal como Sociedade Anónima, pretendia-se  reforçar o princípio de que o Estado não garante ou avaliza, directa ou indirectamente, qualquer dívida ou obrigação desta sociedade, nem assume qualquer responsabilidade pelos seus passivos, seja qual for a sua natureza.”  


Ver também:  http://topicos.jornaldenegocios.pt/Estradas_de_Portugal

3 comentários:

  1. Estradas de Portugal processa o Estado

    Hoje


    Duas acções de impugnação deram entrada em Novembro e Dezembro no Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada. A empresa põe Estado em tribunal por 230 milhões de IVA.

    O "Jornal Económico" escreve que o diferendo fiscal que há três anos opõe a Estradas de Portugal (EP) ao Governo saiu dos gabinetes ministeriais onde estava a ser politicamente negociado e vai ser resolvido pelos tribunais.

    A empresa pública apresentou dois processos de impugnação no Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada contestando a liquidação feita pelo Fisco e reclamando, em contrapartida, que lhe seja reconhecido o direito à dedução do IVA.

    Se o Estado ganhar, a empresa terá de desembolsar cerca de 70 milhões de euros por ano (desde 2008). Mas se a empresa pública levar a melhor, o Fisco será obrigado a reembolsar-lhe um valor total de 230 milhões de euros, mais os créditos fiscais que se vierem a vencer entretanto.

    Na origem desta disputa estão diferentes interpretações quanto à natureza da actividade que a EP desempenha.

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  2. Já dizia a OCDE que Portugal tinha apenas um "soft budget constraint" que não restringia quase nada.

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  3. Vendas de gasolina caiem -10% em Julho 2011, versus o ano anterior, e vendas de gasóleo cairam -8%.
    Dados divulgados pela Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), a que o Económico teve acesso, mostram que as vendas de gasolina sem chumbo 95 caíram em Julho pelo 23º mês consecutivo. O tombo foi de 10% face a igual período do ano anterior. No mesmo sentido, as vendas de gasóleo, o combustível mais consumido em Portugal, recuaram 8%, a maior descida em cinco anos.

    A queda é significativa pela dimensão mas também pelo período em que ocorre porque Julho e Agosto são os meses em que as petrolíferas registam maior procura por combustíveis, destacaram fontes do sector. Segundo os mesmos dados, as 102 mil toneladas de gasolina vendidas em Portugal em Julho estão ao mesmo nível de 2001, enquanto as vendas de gasóleo se situam em patamar idêntico ao do início da década.

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