Tradutor

terça-feira, abril 26, 2022

Aldrabado, crédulo ou cúmplice circa 2008

"Fui aldrabado, fui enganado" é uma bela desculpa em quase todas as situações. Serve para explicar a derrota tanto no campo de jogo, como no campo da governação. 

As desculpas dos treinadores de futebol são de pouca consequência. Já as desculpas ligeiras dos governantes são muito mais preocupantes. 

Se os governantes, cuja missão é zelarem pelo bem-estar, a segurança e a prosperidade do povo, se deixam "aldrabar" com tanta facilidade, será que devemos confiar mais nos aldrabados do que nos aldrabões? E como os distinguir? 

Será que os aldrabados não foram demasiado crédulos, não ignoraram os alertas, não foram indiferentes ao risco coletivo, não foram imprudentes com os nossos interesses comuns?  

Aldrabões há muitos, sempre houve. Quem não desconfiou dos aldrabões no passado, vai ser mais vigilante no futuro? 

Quem trabalha por conta própria pode deixar-se levar e assumir os risco e consequências.

Quem trabalha por conta de todos nós, por conta do erário público,  tem que ser mais prudente, deve precaver e evitar as consequências negativas, não apenas para si, mas para todos nós. 

Senão, teremos que ser todos a pagar a falta de "devidos cuidados" de alguns, com cortes salariais e de pensões, etc. 

Mariana Abrantes de Sousa, economista 

25-Abril-2022 

Ver Socrates e PS: Quem aldrabou quem?  https://observador.pt/opiniao/socrates-e-ps-quem-aldrabou-quem/

quarta-feira, abril 06, 2022

Sanções e Censura ... em tempo de guerra no século XXI

Eu sou do tempo em que a aldeia não tinha eletricidade e que os poucos carros tinham duas baterias: uma para rolar e carregar, e outra para alimentar um  RÁDIO enorme que ocupava um lugar de honra na sala de visitas. A grande bateria negra ficava debaixo da mesinha do RÁDIO, devidamente escondida atrás de uma cortina. 

Quando chegou a eletricidade, nos anos 1960s, apareceu um pequeno rádio vermelho, com menos botões mas mais capacidade de captação que já ficava na cozinha, a acompanhar a preparação das refeições. 

À noite sintonizavam-se outras emissoras de onda curta, que traziam as notícias censuradas nos jornais e na radio nacional pelo regime de Salazar, que passou a ter os anos, senão os dias, contados. 

Passados 60 anos, continuamos a ver regimes autocráticos e totalitários a conseguirem controlar as opiniões e as informações que chegam aos públicos equipados de smartphones e habituados à Internet. 

Alguns analistas sugerem mesmo que esta censura permite controlar a opinião publica e assim reduzir o efeito doméstico das sanções económicas internacionais.  

VER Iran Censorship and Sanctions

Campanhas DBS Divestiture, Boycotts, Sanctions levaram 30 anos a cerrar as lacunas e a ter efeito na Africa do Sul, uma sociedade relativamente "democrática" e aberta. 

As sanções atuais contra a Russia dificilmente terão efeito em tempo útil na Russia, e a Ucrania não pode esperar quando qualquer soldado em retirada pode fazer dezenas de vítimas. 

As Sanções funcionam através do impacto na população e na opinião pública do agressor. Mas isso pode acontece com uma censura tão apertada? 

Falta examinar como é que um regime ditatorial consegue HOJE controlar mais as opiniões, a informação e os media, com Internet, smartphones e satélites, de que  Salazar conseguia com a censura dos anos 1950-60s com uma população pobre e pouco letrada.

Mariana Abrantes de Sousa 

Economista 

2022-04-06 


 

segunda-feira, abril 04, 2022

A arte de bem subsidiar ... em tempo de guerra

Eis mais subsídios pendurados uns nos outros: 
Para receber o novo subsídio de gás de botija é necessário estar a receber o "subsídio" da Tarifa Social de eletricidade! 
A mesma coisa para receber o Vale Eficiência Energética de 1300 euros? 
Será que a EDP sabia tudo sobre as necessidades continuadas dos portugueses quando aplicou a Tarifa Social a este ou a aquele cliente? 
Será que o Estado devia fazer o outsourcing da gestão de subsídios, com o dinheiro dos contribuintes, para empresas privadas ? 

Subsídios assim tão "simples" são os mais apropriados? 


Subsídios têm má fama nas Finanças Públicas por boas razões, porque pesam sobre os contribuintes e podem mesmo ter consequências indesejadas. 

Mas os subsídios existem por  razões ainda melhores, para colmatar necessidades e carências insustentáveis, para neutralizar falhas de mercado, para promover uma sociedade mais justa e mais solidária.

Criar subsídios eficientes, eficazes e equitativos é uma arte, não apenas um cálculo cientifico ou um processo político.  Exige procedimentos de gestão administrativa igualmente inteligentes 

O conceito de SMART subsidies é difícil de aplicar e implica tempo de análise, negociação e de ajustamento.   

S - especifico

M - mensurável 

A - acordado e negociado

R- realista e revisto

T - limitado no tempo 

Numa palavra, subsidiar bem dá trabalho... 

Mariana Abrantes de Sousa 

Economista 

SMART subsidies https://sswm.info/safe-water-business/prepare/smart-subsidies---creating-markets-instead-of-distorting-them

Investidores internacionais e a divida soberana russa com juros em dia

Alguns dizem que a presidente do banco central russo está a "ajudar os investidores internacionais" continuando a pagar juros através das contas bancárias congeladas! 

Ou serão os investidores internacionais a "ajudar o agressor " ao aceitar o pagamento de juros em "blood money"? 

É sempre útil ouvir posições e interpretações diversas, e demais teorias da conspiração. 
Eis aqui as minhas teorias: 

Os investidores internacionais de obrigações da dívida russa deviam "doar os juros recebidos enquanto durar a invasão da
Ucrânia" a entidades internacionais que apoio os refugiados ucranianos, com a Cruz Vermelha, a UNICEF, etc. 

Os consumidores e as empresas estão a "pagar a crise" através da inflação e da disrupção das transações comerciais. Como se justifica que as transações financeiras continuem "normalmente" nesta situação de anormalidade sangrenta

As sanções económicas a um regime tão rico podem funcionar apenas a muito longo prazo. Entretanto vão sendo criados atalhos para aproveitar as oportunidades de lucro. O bloqueio de comércio e  pagamentos pode ser contornado com muitos mecanismos tais como triangular o  comércio, barter ou permutas em espécie. No curto prazo, as sanções pesam mais sobre os parceiros comerciais SE estes sofrerem multas e coimas.  Mas as sanções económicas pesam muito pouco sobre os investidores internacionais e os mercados de capitais "anónimos", faceless, como os investidores em obrigações negociáveis "ao portador".  

A primeira vez que eu vi esta escapatória (loophole) foi com os BONEX argentinos em 1982 quando outro autocrata Galtieri se lembrou de invadir as ilhas Malvinas/Falklands, fez agora 40 anos.

Esta invasão em 2022 "surpreendeu" toda a gente, mas provou que o Putin e o seu regime, não são de confiança, não são bons vizinhos de ninguém, muito menos dos "povos-irmãos." O rating de divida soberana pode ser cortado para JUNK, mas isso ainda é bom demais e não reflete a ameaça russa persistente em toda a linha, com ou sem Putin. Aceitar o pagamento de juros russos para proteger os investidores imprudentes que avaliaram MAL o "risco soberano de Putin" é um erro crasso, que nos vai custar muito mais caro do que as menos valias. O "blood money" recebido dos juros russos devia ser doado para apoiar os refugiados e as vítimas da invasão.  

A Ucrânia não pode esperar pelo efeito das sanções. Urge negociar um cessar-fogo JÁ. 
Sem perder tempo a especular sobre o que vai na cabeça de Putin, nem quem tem mais ou menos razão, haverá alguma proposta negocial, alguma combinação de "carrots & sticks", que poderia convencer os russos a cessar-fogo JÁ?  

Talvez fechar a porta da NATO enquanto se acelera a abertura da porta da EU para a Ucrânia?
E mesmo fechar o acesso ao mercados financeiros e estes  "serial agressors" e senhores da guerra. 

Mariana ABRANTES de Sousa, Economista 
2022-04-04 

2022 Putin bombs Ukraine 

2015 Putin bombs Syria https://www.pbs.org/wgbh/frontline/article/putin-airstrikes-syrian-war-assad-ukraine/

1999 Putin bombs Chechenia https://www.npr.org/2022/03/12/1085861999/russias-wars-in-chechnya-offer-a-grim-warning-of-what-could-be-in-ukraine?t=1649062786265