Talvez não fosse mau que os portugueses mudassem alguns hábitos.
Pelo menos, do ponto de vista económico, seria bom que
deixássemos de lado o famoso “fiel amigo”. Fiel amigo da carteira dos
noruegueses, que não brincam em serviço e nos colocam à mesa o bacalhau da
aquacultura nas águas frias da Noruega.
E nós a pensarmos que comemos bacalhau pescado no mar alto do
Atlântico Norte (Terra Nova, Gronelândia, Noruega, etc). Santa ilusão.
Os noruegueses conhecem bem (estudam ao pormenor) os gostos dos
portugueses e sabem que comemos 1 000 toneladas (um milhão de quilos) de
bacalhau só na noite da consoada.
Compramos à Noruega cerca de 50 000 toneladas de bacalhau por
ano, representando isso 70% do bacalhau que consumimos, segundo o Conselho
Norueguês das Pescas (Norge).
“Já processado”, é só cozer e por no prato. Assim vai a nossa
dependência alimentar . Se a Noruega nos quiser por “a pão e laranja” é só
decretar um embargo (os embargos até estão, outra vez, na moda, que o digam os
russos) à sua exportação de bacalhau para a nossa noite da consoada. Gostava de
ver... Sem bacalhau (importado) que seria de nós?
Porque não optar pelo polvo?
Para a noite da consoada, as famílias portuguesas também gostam
de peru (3%) e de polvo (7%), segundo artigo da Lusa (18.12.2014).
Ora aí está uma alternativa muito mais saudável do ponto de
vista económico. Consumir polvo, pois claro. Seria, talvez, um bom
aproveitamento da nossa fantástica Zona Económica
Exclusiva (ZEE).
Aproveitar essa ZEE para pescar polvo, não só para a mesa dos
portugueses, mas para a mesa de todos os europeus (exportávamos peixe em vez de
o importar).
Afinal que proveito estamos a tirar dos 1,7 milhões de km2
(quilómetros quadrados) da nossa ZEE (fala-se que pode ir para 4 milhões), 18
vezes o nosso território emerso (continente e ilhas), a 3ª maior da Europa e a
11ª do mundo? (ver Wikipédia). Sim. Que proveito estamos a tirar
desta formidável dádiva da natureza ( e da ONU) que nos
poderia permitir ser um país fornecedor mundial de peixe em vez de sermos um
grande importador de peixe, como acontece hoje e desde há muito?
Segundo o INE a nossa dependência
alimentar é principalmente de
cereais e de peixe congelado, seco e salgado. Parece mentira mas não é,
infelizmente.
Como é possível dispormos de uma das maiores ZEE marítimas do
mundo, particularmente graças aos Açores e à Madeira, e sermos grandes importadores
líquidos de peixe?
Somos grandes consumidores de peixe. Estamos em 3º lugar no
mundo, logo atrás dos japoneses e dos islandeses. Isso, em si, não tem mal
nenhum, a não ser ficarmos tão dependentes do exterior em bens alimentares,
onde poderíamos ser exportadores líquidos.
Para isso, mudar de hábitos alimentares e aproveitar muito
melhor os recursos sobre os quais temos jurisdição, poderia dar uma grande ajuda para o país e para o nosso futuro coletivo.
António Abrantes