Prognósticos só no fim das eleições
Economista não deve fazer previsões políticas, mas todo o cidadão deve ter uma opinião bem informada, e sobretudo preparar-se para enfrentar as consequências da decisão colectiva. Apesar de ter ganho o voto popular, Hillary Clinton ganhou apenas em 20 dos Estados. E nos Estados Unidos, a eleição presidencial depende do sumatório das eleições estaduais, o tal Electoral College.
Fala-se muito do apelo de Donald Trump aos eleitores sofredores e esquecidos, mas a taxa de desemprego americana é de apenas 4,9%, o que pode ser considerado pleno emprego.
Dos 20 Estados com desemprego acima da média, 8 Estados votaram em Hillary, incluindo New Mexico. Dos 30 Estados que votaram no Trump, 17 Estados têm desemprego abaixo da média nacional americana.
Em Portugal o desemprego é bastante superior (acima de 12% desde 2019) mas os portugueses votam com os pés, emigram. Em suma,
In a democracy, people get the leaders they deserve.
In a democracy, there are no wrong candidates, only foolish voters.
A 5-Novembro-2016 o DN convidou para almoço e conversa acerca das eleições americanas. Eis alguns excertos da entrevista no DN, que pode ser vista em:
http://www.dn.pt/mundo/interior/hillary-e-uma-mulher-de-armas-se-for-eleita-sera-historico-5480896.html
"Quando Mariana chegou aos Estados Unidos, Lyndon Johnson era o presidente. Seguiram-se Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald Reagan. Confessa que desde que obteve a dupla cidadania passou a votar, mas "nunca automaticamente". Olha sempre com atenção para o boletim de voto, que costuma ser complexo, com candidatos a presidente, a congressista, a mayor, e admite que votou já "ocasionalmente num ou noutro partido. O meu voto não está cativo".
Por isso hoje vota, à distância, como residente de Nova Jérsia. Pousa o garfo e a faca e procura mais uma folha com gráficos. Desta vez é o peso eleitoral de cada um dos 50 estados e de como os americanos no exterior valeriam tanto como o Colorado se fossem considerados um círculo.
pergunto se alguma vez teve atividade partidária. Responde que não, que não a atrai. Mas que sente vontade de intervir na sociedade, seja como economista seja como cidadã. Por isso tem os blogues PPP Lusofonia e beijozxxi, integra a Soroptimist Portugal (uma espécie de Rotários só para mulheres) e é tesoureira da Sousa Mendes Foundation (dos Estados Unidos), além de presidente do American Club de Portugal.
Regressamos à política americana. Mariana não gosta quando ouve falar mal dos Estados Unidos. "Têm coisas más e coisas boas, como qualquer país. Mas têm de ter muitas coisas boas mesmo, já que são tão bem-sucedidos." Sobre estas eleições, em que o favoritismo de Hillary Clinton no campo democrata se comprovou apesar do desafio de Bernie Sanders, mas em que os republicanos se deixaram surpreender nas primárias e têm agora Trump como candidato, a economista admite ter feito um esforço para estar a par. Conta que há uns meses, para se preparar para uma entrevista, esteve a ver vários vídeos de Trump: "Tinham todos três ou quatro minutos. E sempre o mesmo formato. Os primeiros 30 segundos era a falar de barbaridades, tipo excluir os imigrantes. Mas depois, quem ainda não tivesse desligado, ouvia Trump a falar do desemprego de longa duração, de cidades que já tinham tido tempos bons mas agora viviam os maus, como Cleveland. E isto fez-me pensar nos riscos que é a democracia ignorar os perdedores da globalização. É que se em Portugal esses votam com os pés, emigram; nos Estados Unidos votam nas urnas."
Que Trump consiga apelar a muitos americanos "é assustador", acrescenta a luso-americana. "Não está preparado para ser presidente. Aproveitou-se da notoriedade para ganhar apoio. E muitos republicanos tardaram demasiado a afastar-se. Ainda no outro dia ouvi a Condoleezza Rice a dizer que era contra Trump. Não percebo porque só agora." Além de impreparado, que seja sexista e xenófobo também a incomoda.
Já sobre Hillary, realça que se trata de "uma mulher muito inteligente, o que nem sempre é fácil. Tem uma capacidade de assustar muita gente. Mas tem sido uma líder desde a universidade. E possui uma visão estratégica. O problema é que para ganhar não é preciso o mesmo que para governar". Insisto se não quer mesmo dizer em quem votou para as presidenciais de dia 8. "O voto é secreto", responde, com um sorriso.
Pedimos a conta e preparamo-nos para nos despedir. Chega um licor de menta, oferta da casa (quando chega a conta, descubro que também as entradas foram uma gentileza). Mariana elogia o restaurante (Ingrediente no Alto de Algés), diz que almoça aqui várias vezes, outras vezes compra-lhes comida para levar para casa, ali perto. "Gosto do comércio de proximidade. Nos Estados Unidos é comum o zoning, zonas bem separadas para habitação e comércio. É um daqueles casos em que prefiro Portugal à América. Mas temos de dar o nosso contributo para defender estes restaurantes de bairro", salienta. É a tal "citizenship", ou cidadania, palavra que ouviu pela primeira vez quando chegou à América. Outra foi "leadership", liderança.
Em 2017, o American Club celebra 70 anos como forum de diálogo e discussão. E prepara uma grande conferência em outubro com os American Club da Europa. Entretanto, continuará a promover os "american values", diz Mariana, e os almoços-debate. Há dias foi Catarina Albuquerque a convidada, a portuguesa que foi a primeira relatora da ONU para a Água. No dia 9-Nov, acontecerá um jantar Day After, com Nicholas Kralev, um politólogo americano, que vai analisar o resultado das eleições da véspera. Falará certamente da clivagem entre democratas e republicanos, que a presidente do American Club considera um dos grandes problemas dos Estados Unidos."
Economista não deve fazer previsões políticas, mas todo o cidadão deve ter uma opinião bem informada, e sobretudo preparar-se para enfrentar as consequências da decisão colectiva. Apesar de ter ganho o voto popular, Hillary Clinton ganhou apenas em 20 dos Estados. E nos Estados Unidos, a eleição presidencial depende do sumatório das eleições estaduais, o tal Electoral College.
Fala-se muito do apelo de Donald Trump aos eleitores sofredores e esquecidos, mas a taxa de desemprego americana é de apenas 4,9%, o que pode ser considerado pleno emprego.
Dos 20 Estados com desemprego acima da média, 8 Estados votaram em Hillary, incluindo New Mexico. Dos 30 Estados que votaram no Trump, 17 Estados têm desemprego abaixo da média nacional americana.
Em Portugal o desemprego é bastante superior (acima de 12% desde 2019) mas os portugueses votam com os pés, emigram. Em suma,
In a democracy, people get the leaders they deserve.
In a democracy, there are no wrong candidates, only foolish voters.
A 5-Novembro-2016 o DN convidou para almoço e conversa acerca das eleições americanas. Eis alguns excertos da entrevista no DN, que pode ser vista em:
http://www.dn.pt/mundo/interior/hillary-e-uma-mulher-de-armas-se-for-eleita-sera-historico-5480896.html
"Quando Mariana chegou aos Estados Unidos, Lyndon Johnson era o presidente. Seguiram-se Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald Reagan. Confessa que desde que obteve a dupla cidadania passou a votar, mas "nunca automaticamente". Olha sempre com atenção para o boletim de voto, que costuma ser complexo, com candidatos a presidente, a congressista, a mayor, e admite que votou já "ocasionalmente num ou noutro partido. O meu voto não está cativo".
Por isso hoje vota, à distância, como residente de Nova Jérsia. Pousa o garfo e a faca e procura mais uma folha com gráficos. Desta vez é o peso eleitoral de cada um dos 50 estados e de como os americanos no exterior valeriam tanto como o Colorado se fossem considerados um círculo.
pergunto se alguma vez teve atividade partidária. Responde que não, que não a atrai. Mas que sente vontade de intervir na sociedade, seja como economista seja como cidadã. Por isso tem os blogues PPP Lusofonia e beijozxxi, integra a Soroptimist Portugal (uma espécie de Rotários só para mulheres) e é tesoureira da Sousa Mendes Foundation (dos Estados Unidos), além de presidente do American Club de Portugal.
Regressamos à política americana. Mariana não gosta quando ouve falar mal dos Estados Unidos. "Têm coisas más e coisas boas, como qualquer país. Mas têm de ter muitas coisas boas mesmo, já que são tão bem-sucedidos." Sobre estas eleições, em que o favoritismo de Hillary Clinton no campo democrata se comprovou apesar do desafio de Bernie Sanders, mas em que os republicanos se deixaram surpreender nas primárias e têm agora Trump como candidato, a economista admite ter feito um esforço para estar a par. Conta que há uns meses, para se preparar para uma entrevista, esteve a ver vários vídeos de Trump: "Tinham todos três ou quatro minutos. E sempre o mesmo formato. Os primeiros 30 segundos era a falar de barbaridades, tipo excluir os imigrantes. Mas depois, quem ainda não tivesse desligado, ouvia Trump a falar do desemprego de longa duração, de cidades que já tinham tido tempos bons mas agora viviam os maus, como Cleveland. E isto fez-me pensar nos riscos que é a democracia ignorar os perdedores da globalização. É que se em Portugal esses votam com os pés, emigram; nos Estados Unidos votam nas urnas."
Que Trump consiga apelar a muitos americanos "é assustador", acrescenta a luso-americana. "Não está preparado para ser presidente. Aproveitou-se da notoriedade para ganhar apoio. E muitos republicanos tardaram demasiado a afastar-se. Ainda no outro dia ouvi a Condoleezza Rice a dizer que era contra Trump. Não percebo porque só agora." Além de impreparado, que seja sexista e xenófobo também a incomoda.
Já sobre Hillary, realça que se trata de "uma mulher muito inteligente, o que nem sempre é fácil. Tem uma capacidade de assustar muita gente. Mas tem sido uma líder desde a universidade. E possui uma visão estratégica. O problema é que para ganhar não é preciso o mesmo que para governar". Insisto se não quer mesmo dizer em quem votou para as presidenciais de dia 8. "O voto é secreto", responde, com um sorriso.
Pedimos a conta e preparamo-nos para nos despedir. Chega um licor de menta, oferta da casa (quando chega a conta, descubro que também as entradas foram uma gentileza). Mariana elogia o restaurante (Ingrediente no Alto de Algés), diz que almoça aqui várias vezes, outras vezes compra-lhes comida para levar para casa, ali perto. "Gosto do comércio de proximidade. Nos Estados Unidos é comum o zoning, zonas bem separadas para habitação e comércio. É um daqueles casos em que prefiro Portugal à América. Mas temos de dar o nosso contributo para defender estes restaurantes de bairro", salienta. É a tal "citizenship", ou cidadania, palavra que ouviu pela primeira vez quando chegou à América. Outra foi "leadership", liderança.
Em 2017, o American Club celebra 70 anos como forum de diálogo e discussão. E prepara uma grande conferência em outubro com os American Club da Europa. Entretanto, continuará a promover os "american values", diz Mariana, e os almoços-debate. Há dias foi Catarina Albuquerque a convidada, a portuguesa que foi a primeira relatora da ONU para a Água. No dia 9-Nov, acontecerá um jantar Day After, com Nicholas Kralev, um politólogo americano, que vai analisar o resultado das eleições da véspera. Falará certamente da clivagem entre democratas e republicanos, que a presidente do American Club considera um dos grandes problemas dos Estados Unidos."
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