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segunda-feira, setembro 28, 2015

Que hoje não fique ninguém embuçado nesta sala

O Fado do Embuçado,  um dos mais lindos fados - tradição, deixa muitos ouvintes a questionar o que significa "embuçado" -  uma pessa que tem o rosto tapado pela capa ou capote, e parece derivar da palavra embuço, ou  bioco, a versão portuguesa da  "burqa" .
VER:   http://www.aulete.com.br/embu%C3%A7ado#ixzz3n3pznIxq

Apesar de boa parte de Portugal ter estado sob domínio muçulmano durante 500 anos, e de haver uma tradição de modéstia no traje,  o bioco ou burqa foi ilegalizada em Portugal ainda no século XVII.

Por isso não era tolerado haver um Embuçado,  nem quando se tratava de el-Rei...



O Embuçado, João Ferreira Rosa

Noutro tempo a fidalguia
Que deu brado nas toiradas
Andava p'la Mouraria
Em muito palácio havia
Descantes e guitarradas

E a história que eu vou contar
Contou-ma certa velhinha
Uma vez que eu fui cantar
Ao salão de um titular
Lá p'ró Paço da Rainha

E nesse salão dourado
De ambiente nobre e sério
Para ouvir cantar o fado
Ia sempre um embuçado
Personagem de mistério

Mas certa noite houve alguém
Que lhe disse erguendo a fala:
-"Embuçado, nota bem, que hoje não fique ninguém
Embuça nesta sala!"

E ante a admiração geral
Descobriu-se o embuçado
Era el-Rei de Portugal, houve beija-mão real
E depois cantou-se o fado

Fonte:  http://letras.mus.br/joao-ferreira-rosa/486079/
VER Burqa ilegal em Portugal http://soroptimistapt.blogspot.com/2015/05/bioco-burka-portuguesa-proibida-desde.html

Ver também http://www.publico.pt/local/noticia/a-burka-tambem-existiu-no-algarve--era-o-bioco-e-dava-liberdade-a-mulher-1698729

A mulher algarvia, há pouco mais de um século, também usou burqa mas sem conotações religiosas. À capa negra que se estendia da cabeça aos pés e só permitia ver os olhos, foi dado o nome de bioco ou rebuço. Um antigo governador civil, em nome da nova civilização, decretou que este traje tradicional fosse banido das ruas e templos. Agora, o bioco está de volta em versão moderna, com outras histórias para contar.

O antigo governador civil de Faro, Júlio Lourenço Pinto, nascido no Porto, viu nesta peça de vestuário “vestígios da dominação muçulmana” que entendia não terem razão de existir no final do século XIX. Vai daí, extinguiu o bioco. No seu livro de crónicas O Algarve, publicado em 1894, justifica: Trata-se de uma “máscara” que poderia dar azo a certas libertinagens. Uma das razões invocadas prende-se com a fidelidade conjugal. Imagine-se uma “frágil pecadora” que, vestida de forma a não ser reconhecida, poderia atirar-se “sem perigo a aventura amorosa-romanesca ou a façanha de infidelidade conjugal”, afirma. Por isso, servindo-se dos poderes que lhe estavam conferidos, decretou: “É proibido nas ruas e templos de todas as povoações deste distrito o uso dos chamados rebuços ou biocos de que as mulheres se servem escondendo o rosto”, refere o artigo 32, do Regulamento Policial do distrito, publicado a 6 de Setembro de 1892.

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