A queda do
Banco Espirito Santo é o mais recente, e esperemos o derradeiro,
buraco que apareceu na crise financeira portuguesa que sofremos desde 2008. Ao fim de 6 anos, finalmente nos questionamos quem são os responsáveis, q
uem poderia ter evitado este desastre e como.
Estas análises forenses ou de “
post-mortem” são muito importantes, ainda que as respostas mais imediatas, começando todos por apontar o dedo uns aos outros, dificilmente serão as mais certeiras.
Algumas coisas deveriam ficar claras desde logo:
- Os
sistemas de boa governação funcionam em cadeia e a vários níveis, com normas e procedimentos, check lists, pesos e contrapesos e redundâncias ou
back-ups. O desastre financeiro da dimensão desta (primeira?) bancarrota de Portugal do século XXI não ocorreu devido à falha de um ou outro único interveniente. Houve
falhas em catadupa, dentro e fora de Portugal, dentro e fora do Estado.
- Para os incompetentes e irresponsáveis, a culpa é sempre dos outros, apressando-se eles a “
sacudir a água do capote”.
-
Criticar faz parte das boas praticas de gestão de risco, especialmente quando é feito de uma forma equilibrada e transparente. Ninguém gosta de um bufo, um “
whistle blower” ou um delator, mas é preciso ter s
entido crítico e coragem para denunciar praticas abusivas ou simplesmente arriscadas.
Sabemos que num Portugal ainda salazarento, premeia-se quem sabe manter a “
bola baixa”, quem “
entra mudo e sai calado”, quem “
tem papas na língua”. Quando predomina o conformismo social, temos os “
bland leading the blind”, a liderança dos brandos, que não ouvem, que não vêm, que não dizem nada. Quando predomina o conformismo autoritário, temos o problema de “
power distance” excessiva, em que o chefe tem sempre razão, mesmo quando o “
rei vai nu”.
Convém recordar que quando a segunda pessoa a assinar um documento simplesmente “
assina de cruz", está a criar a ilusão de escrutínio, dando
falso conforto aos demais, o que representa um valor acrescentado negativo inaceitável.
Assim,
que venha o escrutínio, que venham as comissões de inquérito.
E que não se limitem a crucificar esta ou aquela pessoa. Com um “
estampanço” desta magnitude, com
custos sociais e colectivos elevadíssimos, não será suficiente “retirar os malandros”.
A boa governação, que tanto nos falta em Portugal, faz-se com base em
Princípios, Praticas, Procedimentos, Participação, Prudência, Ponderação, e não apenas com Pessoas.
Impões-se um reflexão a todos os níveis. Não podemos deixar que os nossos bons “
brandos costumes” nos condenem a pagar facturas colectivas cada vez mais elevadas por erros individuais e colectivos evitáveis. Por isso, não devemos desperdiçar a oportunidade que nos oferece esta crise para criar e consolidar as bases de boa governação, para um desenvolvimento económico e social sustentado, isto é para
que esta seja a última bancarrota de Portugal.
Mariana ABRANTES de Sousa
PPP Lusofonia
Sabedoria popular nos provérbios financeiros
http://ppplusofonia.blogspot.pt/2010/06/tudo-sobre-economia-e-financas-nos.html
Entrar mudo e sair calado
http://www.tvi24.iol.pt/economia/negocios/bes-em-seis-anos-entrei-mudo-e-sai-calado